aportes para uma hermenêutica da identidade e da práxis docente
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narrativa que restaura gra<strong>da</strong>tivamente o seu sentido. A narrativa dos mitos e símbolos faz<br />
com que estes se transportem de um tempo e se concretizem num tempo que não era o seu<br />
tempo, tornando este tempo o seu tempo real. A narração faz com que o momento<br />
narrativo seja o tempo expressivo do sentido do símbolo. Isto, contudo, se o momento<br />
narrativo estiver carregado de valor simbólico.<br />
Nessa dimensão podemos refletir sobre a questão <strong>da</strong> identi<strong>da</strong>de <strong>docente</strong> e seu<br />
processo de ressimbolização. O fato de ocorrer espontaneamente, através de um espaço<br />
educativo propício, a narrativa <strong>da</strong> sua própria experiência <strong>docente</strong>, resultando no resgate <strong>da</strong><br />
memória, pode proporcionar um processo de restauração de sentido. O resgate <strong>da</strong> memória<br />
faz com que a localização <strong>da</strong> história narra<strong>da</strong> no tempo não tenha mais <strong>uma</strong> característica<br />
cronológica, pois “confere temporali<strong>da</strong>de, universali<strong>da</strong>de e alcance ontológico à<br />
compreensão de nós mesmos” 286 . A história, a situação existencial vivi<strong>da</strong> e pensa<strong>da</strong>, não é<br />
somente um relato, mas <strong>uma</strong> narrativa plena de sentido, de significado. Podemos dizer que<br />
a história é narra<strong>da</strong>, justamente porque esta prenhe, grávi<strong>da</strong> de sentido. Alg<strong>uma</strong>s vezes,<br />
percebemos que o seu valor simbólico está presente somente no inconsciente e que a<br />
narração, acompanha<strong>da</strong> de reflexão, é <strong>uma</strong> “apropriação do nosso esforço de existir, (...) é<br />
a interpretação no conhecimento de si mesmo” 287 . Diante disso, compreendemos que a<br />
narrativa <strong>da</strong> prática <strong>docente</strong> deveria estar acompanha<strong>da</strong> <strong>da</strong> reflexão, senão ela resulta<br />
meramente num retorno ao passado. Ou, então, num simples processo de catarse. Esta é<br />
importante, pois pode proporcionar um processo de reequilibração nas ações e emoções;<br />
contudo, por si só ela não provoca <strong>uma</strong> ressimbolização <strong>da</strong>s práticas educativas.<br />
Aqui queremos integrar a dimensão teológica do pensamento de Ricoeur: “a<br />
reflexão deve envolver <strong>uma</strong> arqueologia e <strong>uma</strong> escatologia” 288 . Ou seja, o processo de<br />
ressimbolização <strong>da</strong> prática e <strong>da</strong> identi<strong>da</strong>de <strong>docente</strong> não deve se ater a remover as cinzas do<br />
passado, e sim buscar a dimensão do olhar <strong>para</strong> o futuro. Em princípio, deveríamos afirmar<br />
que não há ressimbolização se não houver um olhar <strong>para</strong> o futuro, <strong>para</strong> um “éschatos”. Isto<br />
não significa olhar <strong>para</strong> o fim dos tempos, <strong>para</strong> o fim <strong>da</strong> existência h<strong>uma</strong>na, mas <strong>para</strong> o<br />
“por-vir”. O resgate <strong>da</strong> memória, a narrativa <strong>da</strong>s histórias pessoais e dos símbolos<br />
fun<strong>da</strong>ntes <strong>da</strong> identi<strong>da</strong>de <strong>docente</strong>, tem a intenção, a intencionali<strong>da</strong>de, de permitir e<br />
possibilitar um espaço de ressimbolização <strong>da</strong> <strong>práxis</strong> educativa e <strong>da</strong> identi<strong>da</strong>de <strong>docente</strong>. A<br />
ativi<strong>da</strong>de pe<strong>da</strong>gógica de resgatar as histórias de vi<strong>da</strong>, de narrar as ações educativas<br />
286 Paul RICOEUR, Da interpretação, p. 42; ID., Conflito <strong>da</strong>s interpretações, p. 277.<br />
287 Paul RICOEUR, Da interpretação, p. 46.<br />
288 Paul RICOEUR, Conflito <strong>da</strong>s interpretações, p. 280.