aportes para uma hermenêutica da identidade e da práxis docente
aportes para uma hermenêutica da identidade e da práxis docente
aportes para uma hermenêutica da identidade e da práxis docente
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
198<br />
que a transposição <strong>da</strong> descrição de um fato <strong>para</strong> a narração de <strong>uma</strong> situação significativa,<br />
ocorre quando a pessoa narradora se sente acolhi<strong>da</strong> e valoriza<strong>da</strong>, quando o seu conteúdo<br />
estabelece elos de conexão entre as diferentes vivências, quando ocorrem relações inter e<br />
intrapessoais, quando se percebe elementos significantes e simbolizantes na situação<br />
narra<strong>da</strong> e quando a representação simbólica “toca incondicionalmente” a vi<strong>da</strong> do <strong>docente</strong>.<br />
Podemos afirmar que a vivência dessa dinâmica esteve “grávi<strong>da</strong>-de-mundo 431 ”, pois<br />
revelava e ocultava diversas reali<strong>da</strong>des e trajetórias pessoais. Na reflexão grupal sobre esse<br />
desenho foram realçados dois elementos significativos: a) os cantinhos escuros do baú e b)<br />
o movimento de abrir e fechar o baú.<br />
Relacionado ao primeiro elemento, merecem destaque as seguintes expressões,<br />
surgi<strong>da</strong>s durante a narrativa: “Ca<strong>da</strong> baú tem os seus cantinhos escuros e estes são mais<br />
difíceis de serem remexidos.” Os cantinhos escuros são os espaços <strong>da</strong> nossa vi<strong>da</strong> que<br />
trazem recor<strong>da</strong>ções que ain<strong>da</strong> não foram suficientemente trabalha<strong>da</strong>s ou retrabalha<strong>da</strong>s. São<br />
pontos marcantes que preferimos deixar intocados. São colocados de lado. Segundo Jung,<br />
são os espaços intocáveis do inconsciente. Ou conforme Joseph Luft, as “áreas de<br />
ativi<strong>da</strong>des desconheci<strong>da</strong>s” 432 ou o que Silvino José Fritzen chama de “área ignora<strong>da</strong>” 433 .<br />
Uma outra análise importante foi: “Os baús sempre têm alg<strong>uma</strong>s coisas que são<br />
coloca<strong>da</strong>s mais à vista e outras que ficam mais no fundo.” Procurou-se interpretar essa<br />
afirmação compreendendo que elas são expressões e vivências que procuram sair do baú,<br />
<strong>da</strong>r <strong>uma</strong> espia<strong>da</strong> <strong>para</strong> fora e retornar <strong>para</strong> o seu espaço protegido. As lembranças do fundo<br />
do baú não são necessariamente experiências traumáticas ou feri<strong>da</strong>s não cura<strong>da</strong>s, mas são<br />
lembranças que se encontram protegi<strong>da</strong>s no fundo do baú. São situações que se encontram<br />
guar<strong>da</strong><strong>da</strong>s e protegi<strong>da</strong>s no nosso inconsciente pessoal e que ain<strong>da</strong> não tiveram o momento<br />
oportuno <strong>para</strong> se manifestar. O acesso a essas situações mais profun<strong>da</strong>s passa<br />
obrigatoriamente pela segurança e tranqüili<strong>da</strong>de de li<strong>da</strong>r com as lembranças que estão<br />
presentes no consciente pessoal, <strong>para</strong> somente então li<strong>da</strong>r com as do inconsciente. Isto<br />
significa que é necessário li<strong>da</strong>r com naturali<strong>da</strong>de primeiramente com as lembranças<br />
presentes <strong>para</strong>, então, interagir com as demais.<br />
Apesar do processo dialógico, <strong>da</strong> valorização <strong>da</strong> trajetória pessoal e <strong>da</strong> troca de<br />
saberes, nem sempre a pessoa que conduz a dinâmica de identificação <strong>da</strong> identi<strong>da</strong>de<br />
431 Paulo FREIRE, A importância do ato de ler, p. 22.<br />
432 Joseph LUFT, Introducción a la dinámica de grupos, p. 38.<br />
433 Silvino José FRITZEN, Janela de Johari, p. 11.