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aportes para uma hermenêutica da identidade e da práxis docente

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77<br />

sua <strong>práxis</strong> e <strong>da</strong> sua identi<strong>da</strong>de, um fortalecimento do sentido do que se faz. É, portanto, um<br />

fortalecimento <strong>da</strong> própria individuação.<br />

Os aspectos acima mencionados, vistos num conjunto, constituem o discurso como<br />

um acontecimento que se atualiza na linguagem e na escrita. Ricoeur desdobra a<br />

explicação em quatro dimensões 158 : na primeira, o acontecimento aparece e desaparece.<br />

Em síntese, o que se escreve, o que se inscreve, é o noema do dizer, é a significação do<br />

acontecimento <strong>da</strong> fala, não o acontecimento enquanto acontecimento. A pessoa só registra<br />

o acontecimento, pois ele estava “grávido” de sentido, tinha <strong>uma</strong> significação. O<br />

acontecimento pelo acontecimento fica na lembrança ou se evapora com o tempo. O<br />

acontecimento com sentido e que se transforma em discurso, em texto de fala, se torna<br />

atemporal, mesmo sendo temporal, pois ultrapassa o tempo do acontecimento. O ato de<br />

falar segue <strong>uma</strong> hierarquia ordena<strong>da</strong>: a) o ato de falar; b) o que se faz ao falar; c) o que se<br />

faz pelo fato de falar.<br />

N<strong>uma</strong> segun<strong>da</strong> dimensão, Ricoeur aponta que somente a “significação resgata a<br />

significação, sem a contribuição <strong>da</strong> presença física e psicológica do autor” 159 . A<br />

interpretação é o único remédio <strong>para</strong> <strong>uma</strong> eventual fragili<strong>da</strong>de do texto que o autor já não<br />

pode salvar. É a significação que se constitui na interpretação que resgata a própria<br />

significação imbuí<strong>da</strong> no texto. Por outro lado, podemos dizer que a significação que o texto<br />

tem <strong>para</strong> o leitor é que resgata a significação do texto. Entretanto, o texto tem <strong>uma</strong><br />

significação própria e existe por si só, mesmo quando o leitor não encontra o sentido do<br />

texto.<br />

N<strong>uma</strong> terceira dimensão, pode-se entender que o “acontecimento é superado pela<br />

significação” 160 . O discurso é o que se refere ao mundo, a um mundo. No discurso oral,<br />

que é aquilo a que o diálogo se refere, a situação é comum aos interlocutores. Estes estão<br />

inseridos no mesmo contexto. Compreender um texto é, ao mesmo tempo,<br />

esclarecer nossa própria situação ou, se quiser, interpor entre os<br />

predicados de nossa situação to<strong>da</strong>s as significações que fazem do nosso<br />

Umwelt um Welt. 161<br />

O acontecimento passa a ter significado menor do que a significação que se dá ao<br />

acontecimento. E a linguagem, o texto, estabelece a relação entre o ser h<strong>uma</strong>no e o mundo.<br />

158<br />

Paul RICOEUR, Del texto a la acción, p. 170-175; ID., Do texto à ação, p. 186-191.<br />

159<br />

Paul RICOEUR, Del texto a la acción, p. 173.<br />

160<br />

Id., ibid., p. 173.<br />

161<br />

Paul RICOEUR, Do texto à ação, p. 190.

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