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aportes para uma hermenêutica da identidade e da práxis docente

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15.3. Dom Quixote<br />

276<br />

Dom Quixote representa a reali<strong>da</strong>de h<strong>uma</strong>na <strong>da</strong> pessoa que sonha, que vive <strong>uma</strong><br />

fantasia. A nota introdutória do livro de Miguel de Cervantes aponta que a obra destinava-<br />

se a combater a cavalaria an<strong>da</strong>nte, a ser <strong>uma</strong> sátira, mas acaba se transformando “no retrato<br />

<strong>da</strong> aventura h<strong>uma</strong>na, no perfil do homem dividido entre o sonho e a reali<strong>da</strong>de” 600 .<br />

O autor Humberto Braga define Dom Quixote como<br />

o símbolo <strong>da</strong> luta pelo ideal. Um ideal de altruísmo e abnegação, de<br />

doação de si mesmo porque combate por um valor que considera maior<br />

que ele próprio. O ideal se distingue do projeto porque nele o sujeito é<br />

meio e não fim. Obviamente é excluído o interesse pessoal. Dom Quixote<br />

se propõe a defender os fracos contra os fortes. 601<br />

Enquanto Prometeu exerce um ato importante e fun<strong>da</strong>mental, Dom Quixote toma<br />

<strong>uma</strong> decisão que desencadeia <strong>uma</strong> ação e esta leva a outras ações. Dom Quixote procura<br />

levar parceiros e conquistar aliados <strong>para</strong> sua luta e seu ideal, mais pela sua forma de ser,<br />

pelo seu companheirismo do que pelos seus ideais. Sancho Pança não entende a proposta<br />

de Dom Quixote e lhe faz críticas em tom amoroso e humorado. O companheiro Sancho<br />

aponta o real a Dom Quixote e, apesar disso, aceita a fantasia de seu líder e o acompanha.<br />

Dom Quixote, conforme o relato do livro de Miguel de Cervantes, enfrenta as pás de<br />

moinho 602 imaginando serem gigantes inimigos e perigosos e, ao ser “derrotado”, inventa<br />

<strong>uma</strong> história, justificando a sua derrota e mantendo viva a sua fantasia. Dom Quixote<br />

convive mais com o irreal do que com o real, vive mais no mundo <strong>da</strong> fantasia do que <strong>da</strong><br />

reali<strong>da</strong>de. 603 É <strong>uma</strong> fantasia que surge do sonho de um mundo melhor e mais justo; do<br />

sonho de eliminar <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de as pessoas e as situações perigosas. Dom Quixote quer<br />

criar um mundo em que as pessoas podem se amar com liber<strong>da</strong>de e em que reine a<br />

felici<strong>da</strong>de. O seu sonho permanece até o fim <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>. Mesmo diante <strong>da</strong> necessi<strong>da</strong>de de se<br />

resignar, devido à fraqueza do corpo e <strong>da</strong> impossibili<strong>da</strong>de de lutar, permanece o sonho.<br />

Dom Quixote é a representação do sonho que não se pretende alcançar sozinho; por<br />

isso, convi<strong>da</strong> as pessoas que lhe são mais fiéis. Ele inicia e prossegue na luta apesar <strong>da</strong><br />

increduli<strong>da</strong>de dos que o cercam, dos que o ironizam e zombam dele. Ao mesmo tempo,<br />

convive com <strong>uma</strong> permanente ingenui<strong>da</strong>de.<br />

600 Miguel de CERVANTES, Dom Quixote, s/n. A nota nas páginas iniciais não está identifica<strong>da</strong>.<br />

601 Humberto BRAGA, Quatro grandes mitos h<strong>uma</strong>nos, p. 14s.<br />

602 Miguel de Cervantes, Dom Quixote, p. 54-59.<br />

603 Id., ibid., p. 468-476.

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