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aportes para uma hermenêutica da identidade e da práxis docente

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78<br />

A quarta dimensão destaca que o discurso escapa aos limites do face-a-face. No<br />

discurso já não há ouvinte visível. O discurso escapa ao caráter momentâneo do<br />

acontecimento, aos constrangimentos vividos pelo autor e à estreiteza <strong>da</strong> referência<br />

ostensiva. Uma ação importante desenvolve significados que podem ser atualizados ou<br />

satisfeitos em situações distintas <strong>da</strong>quelas em que ocorre a ação.<br />

O significado de um acontecimento importante excede, ultrapassa, transcende as<br />

condições sociais de sua produção e pode ser re-presentado de novo em novos contextos<br />

sociais. Sua importância consiste na sua pertinência duradoura e na sua pertinência<br />

onitemporal. O texto pleno de sentido, a narração grávi<strong>da</strong> de vi<strong>da</strong> e de sentido, é <strong>uma</strong> obra<br />

aberta. Ela abre perspectiva <strong>para</strong> frente, ela possibilita <strong>uma</strong> prospecção e não se reduz a<br />

<strong>uma</strong> retrospecção.<br />

Há ações, acontecimentos que deixam um “rasto”, põe a sua “marca” na vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s<br />

pessoas. Ao contribuir <strong>para</strong> ações significantes, essas marcas se convertem em documentos<br />

<strong>da</strong> ação h<strong>uma</strong>na, em transformam em “pedras vivas” que formam o alicerce <strong>da</strong> construção<br />

<strong>da</strong> profissionali<strong>da</strong>de e pessoali<strong>da</strong>de do <strong>docente</strong>. E são justamente essas marcas que se<br />

transformam em símbolos fun<strong>da</strong>ntes de <strong>uma</strong> identi<strong>da</strong>de <strong>docente</strong>. Essas marcas podem se<br />

constituir em cicatrizes transferi<strong>da</strong>s <strong>para</strong> o inconsciente pessoal ou manter-se vivas no<br />

consciente pessoal. Elas pode se transformar em marcos de resistência, de<br />

enclausuramento, de refugiar-se ou tornarem-se em elemento motivador <strong>para</strong> a dinâmica <strong>da</strong><br />

vi<strong>da</strong>, <strong>para</strong> a inovação, <strong>para</strong> a criativi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>. Devido aos rastos deixados pelas marcas,<br />

elas podem ser resgata<strong>da</strong>s e ressignifica<strong>da</strong>s.<br />

Após esta reflexão, podemos dizer que a compreensão de um texto não é um fim<br />

em si mesmo, senão que mediatiza a relação consigo mesmo de um sujeito que não<br />

encontra no curto-circuito <strong>da</strong> reflexão imediata o sentido de sua própria vi<strong>da</strong>. 162 Neste<br />

mesmo correlato, a interpretação de um texto culmina, mas não termina, na interpretação<br />

de si, de um sujeito que desde então se conhece melhor, se compreende de outra maneira<br />

ou inclusive começa a compreender-se. Essa culminância <strong>da</strong> interpretação, como <strong>uma</strong><br />

inteligência de si mesmo, caracteriza a filosofia reflexiva. Não é, portanto, <strong>uma</strong><br />

interpretação e compreensão do texto em si, mas <strong>uma</strong> ação significativa que redun<strong>da</strong> n<strong>uma</strong><br />

melhor compreensão de si mesmo.<br />

A reflexão não é na<strong>da</strong> sem a mediação dos signos e <strong>da</strong>s obras e a explicação não é<br />

na<strong>da</strong> se não se incorpora como intermediária no processo <strong>da</strong> autocompreensão mesma. Em<br />

162 Paul RICOEUR, Del texto a la acción, p. 141.

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