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aportes para uma hermenêutica da identidade e da práxis docente

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278<br />

relacionamento h<strong>uma</strong>no. Pode-se dizer que a leveza de ser de Carlitos faz com que as<br />

pessoas apren<strong>da</strong>m, ao mesmo tempo, a rir de si e a se autocriticar. Carlitos se distingue do<br />

“bobo <strong>da</strong> corte”, pois não realiza <strong>uma</strong> catarse <strong>da</strong> mal<strong>da</strong>de do “rei”, mas <strong>uma</strong> crítica às<br />

estruturas de poder.<br />

O autor e ator Charles Chaplin soube imortalizar cenas de atuação do Carlitos,<br />

transformando-o, sem ter tido tal intencionali<strong>da</strong>de, n<strong>uma</strong> figura simbólica estruturante <strong>da</strong><br />

identi<strong>da</strong>de pessoal, porque soube captar situações <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de h<strong>uma</strong>na que transcendem<br />

<strong>uma</strong> determina<strong>da</strong> época, <strong>uma</strong> problemática histórica localiza<strong>da</strong> e um sofrimento h<strong>uma</strong>no<br />

específico. Ele soube li<strong>da</strong>r com situações limítrofes <strong>da</strong> condição h<strong>uma</strong>na, com as questões<br />

“últimas” <strong>da</strong> existenciali<strong>da</strong>de h<strong>uma</strong>na. Podemos dizer que a obra transcendeu o seu criador<br />

e, devido a isto, criou condições <strong>para</strong> identificá-lo como um arquetípico h<strong>uma</strong>no. Essa<br />

dimensão está presente nas obras que se transformam em símbolos estruturantes.<br />

Relembrando as idéias do teólogo Paul Tillich, já trabalha<strong>da</strong>s no capítulo dois, o símbolo<br />

não surge por vontade h<strong>uma</strong>na, ele não é criado ou fabricado pelo desejo ou inspiração<br />

h<strong>uma</strong>na, mas é reconhecido como dimensão simbólica, pois li<strong>da</strong> com as questões <strong>da</strong>s<br />

“coisas últimas” <strong>da</strong> existência h<strong>uma</strong>na. E nsito reside a transcendentali<strong>da</strong>de do símbolo<br />

“Carlitos”: escapar do domínio de quem o criou, ultrapassar a intencionali<strong>da</strong>de do próprio<br />

autor.<br />

Humberto Braga afirma que Carlitos, o Vagabundo,<br />

preserva sua individuali<strong>da</strong>de ante <strong>uma</strong> socie<strong>da</strong>de massificadora,<br />

uniformizadora, destrutora <strong>da</strong> individuali<strong>da</strong>de. Ele manifesta insólita e<br />

ostensivamente a sua diferença num meio que não tolera os diferentes.<br />

Tal como Dom Quixote, ele é um otimista ingênuo, mas irredutível. Na<strong>da</strong><br />

o abate, vicissitude ou malogro algum o deprime. Sua luta não se<br />

apresenta como belicosi<strong>da</strong>de ou agressivi<strong>da</strong>de, mas n<strong>uma</strong> instintiva e<br />

obstina<strong>da</strong> resistência <strong>da</strong> qual não tem família consciência, pois não a<br />

racionaliza, não a justifica, nem a verbaliza. Carlitos (...) ama<br />

alegremente a vi<strong>da</strong> e, se não quer mu<strong>da</strong>r o mundo, tampouco se deixa<br />

subjugar por ele, apesar <strong>da</strong> sua aparente fragili<strong>da</strong>de. 605<br />

Carlitos, o Vagabundo, consegue diante do maior sofrimento e de situações<br />

desconfortáveis e desfavoráveis, <strong>da</strong>r a volta por cima e, na sua perspectiva, sair como<br />

vencedor. Ele não se enquadra n<strong>uma</strong> idéia tradicional de vencedor, como aquele que abate<br />

o inimigo e assume o seu lugar, mas com aquela imagem de vencedor que não se deixou<br />

abater pela situação prejudicial. Ele transmite a imagem <strong>da</strong> pessoa que no final ain<strong>da</strong><br />

consegue sair rindo e alegrando as pessoas. Ela faz as pessoas sorrirem num ambiente<br />

605 Humberto BRAGA, Quatro grandes mitos h<strong>uma</strong>nos, p. 16.

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