aportes para uma hermenêutica da identidade e da práxis docente
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principalmente na análise crítica <strong>da</strong> formação de professores elabora<strong>da</strong> por Selma Garrido<br />
Pimenta e José Carlos Libâneo.<br />
1.1. Olhares do pesquisador sobre as vivências relata<strong>da</strong>s por <strong>docente</strong>s<br />
Já se foi o tempo em que o <strong>docente</strong> desenvolvia calmamente, assim como o artesão<br />
diante <strong>da</strong> roca, o seu trabalho, em que o professor tinha “o maior tempo do mundo” <strong>para</strong><br />
conversar com os colegas <strong>docente</strong>s e <strong>para</strong> planejar as suas aulas, <strong>para</strong> atender<br />
individualmente os seus alunos e resolver caso por caso as situações difíceis, em que se<br />
tinha “respostas” às dúvi<strong>da</strong>s de aprendizagem e às perguntas existenciais dos estu<strong>da</strong>ntes.<br />
Uma professora 12 de ensino fun<strong>da</strong>mental, durante um curso de especialização, deu<br />
o seguinte depoimento 13 :<br />
Para mim, ser professora é um ideal de vi<strong>da</strong>, um sonho de infância.<br />
Sempre olhava <strong>para</strong> os meus professores com inveja, mas com muita<br />
admiração. A maior parte dos meus professores colaboraram com minha<br />
aprendizagem e me serviram de referência positiva e, alguns, negativa<br />
que procuro não repetir. Porém, muitas vezes, como professora, faço com<br />
meus alunos aquilo que detestava que faziam comigo.<br />
Tenho <strong>uma</strong> longa caminha<strong>da</strong> como professora, vinte anos, porém, hoje<br />
tenho mais dúvi<strong>da</strong> na minha profissão do que quando iniciei minha<br />
carreira. Na época, nós, professores, éramos respeitados, pelos pais,<br />
alunos e comuni<strong>da</strong>de. Hoje, não sabemos mais o que é importante<br />
ensinar. Os pais nos cobram que querem mais conteúdos, pois os filhos<br />
precisam passar na Universi<strong>da</strong>de Federal, pois não têm condições de<br />
pagar a universi<strong>da</strong>de particular. Muitos alunos também querem isso.<br />
Outros, porém, querem fazer bagunça e não vêem nenh<strong>uma</strong> utili<strong>da</strong>de no<br />
que ensinamos.<br />
O <strong>docente</strong>, além de cumprir a sua tarefa de ensino, encontra-se, ca<strong>da</strong> vez mais,<br />
diante <strong>da</strong> situação de suprir as expectativas e as necessi<strong>da</strong>des de pais e <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de<br />
escolar. Tecer os fios do processo do ensino e <strong>da</strong> aprendizagem é, hoje, muito mais<br />
complexo do que se imagina. Tecer os fios significa estabelecer <strong>uma</strong> rede de interconexões<br />
e inter-relações, muitas vezes, mais imprevisíveis do que previsíveis e planejável, mais<br />
invisíveis do que níti<strong>da</strong>s e mais simbólicas do que concretas.<br />
12 Este depoimento foi <strong>da</strong>do, em dezembro de 2001, por <strong>uma</strong> professora do ensino fun<strong>da</strong>mental de<br />
<strong>uma</strong> escola estadual <strong>da</strong> região norte do estado do Rio Grande do Sul, durante a reflexão sobre<br />
identi<strong>da</strong>de <strong>docente</strong> num curso de especialização de Ensino Religioso.<br />
13 O anonimato tem a intenção de preservar as pessoas, além de <strong>da</strong>r à narração pessoal um caráter<br />
reflexivo e simbólico de situações <strong>da</strong> profissão <strong>docente</strong>. Os relatos transcritos abaixo foram<br />
apresentados e refletidos durante as ativi<strong>da</strong>des de sala de aula. Eles não são de caráter sigiloso e<br />
o seu uso foi autorizado oralmente pelas pessoas durante as ativi<strong>da</strong>des em sala de aula.