aportes para uma hermenêutica da identidade e da práxis docente
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não está atrelado e preso a <strong>uma</strong> determina<strong>da</strong> época, nem a um momento histórico nem a<br />
<strong>uma</strong> situação precisa e fecha<strong>da</strong>. Se houvesse esta ligação direta e restrita, haveria <strong>uma</strong><br />
dependência e deixaria de ser mito, tornando-se um simples relato de fatos ou <strong>uma</strong><br />
descrição <strong>da</strong> história de pessoas.<br />
13.4. Compreensão junguiana de mito<br />
Há um princípio na formação dos mitos que faz com que estes sejam algo mais do<br />
que um conjunto acidental de imaginações e fabulações. O surgimento do mito, à<br />
semelhança do símbolo existencial, não está ligado à vontade de alg<strong>uma</strong> pessoa, de um<br />
grupo ou de <strong>uma</strong> cultura. Pode-se dizer que um relato se transforma em mito na medi<strong>da</strong> em<br />
que a situação descrita atende às necessi<strong>da</strong>des culturais e existenciais <strong>da</strong>s pessoas e li<strong>da</strong><br />
com o enigma <strong>da</strong> existência. Nesta direção, Glória Mendes afirma que os mitos “contêm<br />
símbolos de sentido oculto ou manifesto, que tentam aplacar os temores e ansie<strong>da</strong>des<br />
h<strong>uma</strong>nas, frente ao inexplicável” 543 . Ou seja, o relato constitui-se em mito, na medi<strong>da</strong> em<br />
que os temores e as ansie<strong>da</strong>des vão sendo aplaca<strong>da</strong>s e a pessoa desenvolve, a partir do<br />
mito, um processo de reequilibração <strong>da</strong> sua identi<strong>da</strong>de, <strong>da</strong>ndo <strong>uma</strong> solução, temporária ou<br />
definitiva, <strong>para</strong> os seus conflitos. Ou, na compreensão de Glauco Ulson 544 , quando o relato<br />
promove <strong>uma</strong> “transformação psíquica”.<br />
N<strong>uma</strong> compreensão semelhante à de Glória Mendes, Manuel Antunes afirma:<br />
Mito é a projeção reativa no espaço social <strong>da</strong> linguagem e de outras<br />
formas sensíveis de visões fantásticas, de desejos, de terrores, de<br />
explicações do universo e <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, a um primeiro nível, direto e imediato,<br />
de um modo de apreensão do real e de religação com o mesmo real sem a<br />
mediação rigorosamente consciente <strong>da</strong> filosofia, <strong>da</strong> ciência ou <strong>da</strong><br />
teologia. 545<br />
Assim como o mito não está atrelado à vontade de <strong>uma</strong> pessoa ou de um grupo de<br />
pessoas, ele não está sujeito à manipulação do pensamento <strong>da</strong>s ciências h<strong>uma</strong>nas, sejam<br />
filosóficas, teológicas, antropológicas, sociológicas, psicológicas, ou de outras ciências que<br />
pesquisam a natureza h<strong>uma</strong>na. N<strong>uma</strong> compreensão <strong>hermenêutica</strong>, devemos afirmar que o<br />
papel dessas ciências é o <strong>da</strong> interpretação do mito e não a sua criação, manipulação,<br />
543 Glória Maria Siqueira MENDES, O desejo de conhecer e o conhecer do desejo, p. 11.<br />
544 Glauco ULSON, Mitos escatológicos grego, p. 43.<br />
545 Manuel ANTUNES, Mito, col. 901.