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aportes para uma hermenêutica da identidade e da práxis docente

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meses, reforçou a dimensão escatológica, pois projetou <strong>para</strong> o futuro <strong>uma</strong> auto-afirmação,<br />

<strong>uma</strong> auto-aceitação e <strong>uma</strong> expressiva “coragem de ser”. E apesar <strong>da</strong> desvalorização social<br />

e econômica, ocorre <strong>uma</strong> valorização <strong>da</strong> sua trajetória pessoal.<br />

Segundo Paul Ricoeur, a narrativa de um fato carregado de valor simbólico não é<br />

<strong>uma</strong> simples descrição do mesmo, mas é <strong>uma</strong> interpretação, é <strong>uma</strong> restauração de<br />

sentido. 442 E to<strong>da</strong> nova narrativa por si só já se torna <strong>uma</strong> reinterpretação. A professora, ao<br />

refazer o seu desenho, realizou <strong>uma</strong> reinterpretação do fato registrado na sua memória e<br />

vivenciou <strong>uma</strong> ressimbolização <strong>da</strong> sua experiência. Esta ocorreu em dois momentos. O<br />

primeiro momento de ressignificação ocorreu na ocasião em que foi pedido o desenho e<br />

que provocou <strong>uma</strong> surpresa e admiração pela solicitação. Ela reagiu, imediatamente,<br />

dizendo: “O que é que eu fiz?” “Por que o meu desenho?” E após a superação do<br />

sentimento de surpresa, surgiu o sentimento de valorização, de prazer, de alta auto-estima,<br />

de afirmação <strong>da</strong> auto-aceitação. O susto provocado pelo pedido provocou <strong>uma</strong> quebra na<br />

rotina, fez pensar, fez “mirar-se no espelho”. Esse olhar sobre si mesma provoca <strong>uma</strong><br />

ressignificação <strong>da</strong> sua própria participação no seminário.<br />

O susto <strong>da</strong> professora teve maior dimensão e maior expressão pelo fato dela atuar<br />

na educação infantil. Nem sempre as professoras dessa área de ensino são valoriza<strong>da</strong>s e se<br />

autovalorizam na mesma proporção que as professoras do ensino médio. A diferença<br />

salarial, a exigência <strong>da</strong> formação acadêmica, a ocupação geográfica do espaço escolar e a<br />

própria arquitetura <strong>da</strong>s salas de aula são alguns dos fatores estruturais que revelam a sua<br />

distinção. Essa distinção, muitas vezes camufla<strong>da</strong>, é refleti<strong>da</strong> no processo de construção <strong>da</strong><br />

identi<strong>da</strong>de do <strong>docente</strong> <strong>da</strong> educação infantil. Os elementos estruturais são fatores que<br />

reforçaram o fator do susto e <strong>da</strong> in<strong>da</strong>gação: “eu?”<br />

O segundo momento de ressignificação ocorreu na própria elaboração do novo<br />

desenho, pois havia a necessi<strong>da</strong>de de recor<strong>da</strong>r-se do primeiro desenho, procurar manter-se<br />

fiel ao mesmo e expressar o que se estava pensando. A diferença entre o primeiro e o<br />

segundo desenho revela o processo de ressignificação ocorrido entre o primeiro espaço de<br />

tempo e o segundo espaço de tempo reflexivo. Portanto, podemos afirmar de que não<br />

houve um vácuo e nem um interlúdio entre um momento histórico e cronológico e o outro,<br />

pois o self pessoal continuou operando a sua auto-regulação. O si-mesmo, o self, não<br />

permanece inerte, mas está em constante processo de elaboração e reelaboração.<br />

Jung afirma que o processo de<br />

442 Paul RICOEUR, Da interpretação, p. 19.

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