aportes para uma hermenêutica da identidade e da práxis docente
aportes para uma hermenêutica da identidade e da práxis docente
aportes para uma hermenêutica da identidade e da práxis docente
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
238<br />
não é compreender o que está oculto por trás do texto nem procurar compreender a<br />
situação inicial do discurso, mas ver aquilo que aponta em direção a um mundo possível ,<br />
<strong>para</strong> o que está diante <strong>da</strong> pessoa. Isto significa, por um lado, distanciar-se do processo<br />
arqueológico <strong>da</strong> busca <strong>da</strong> gênese <strong>da</strong>s situações descritas no texto. E, por outro lado,<br />
reconhecer a existência própria do texto e que este se transforma n<strong>uma</strong> identi<strong>da</strong>de própria.<br />
Neste sentido, Ricoeur vê a tarefa do hermeneuta como a de “conceber o sentido do texto<br />
como <strong>uma</strong> exortação que parte dele e que exige <strong>uma</strong> nova maneira de ver as coisas” 534 .<br />
Esta exortação <strong>hermenêutica</strong> deve sempre estar presente nos processos de<br />
ressignificação e ressimbolização <strong>da</strong> <strong>práxis</strong> educativa e <strong>da</strong> identi<strong>da</strong>de <strong>docente</strong>. É necessário<br />
estar e manter-se atento às “falas”, às construções reflexivas e simbólicas e às narrações <strong>da</strong><br />
trajetória de vi<strong>da</strong>, <strong>para</strong> não sejam projetados os estereótipos idealizados pela pessoa que<br />
coordena as ativi<strong>da</strong>des de ressignificação ou as projeções de alg<strong>uma</strong> outra pessoa. É<br />
necessário com isto desenvolver um processo disciplinador, que deve ser realizado tanto<br />
pela pessoa que coordena a ativi<strong>da</strong>de de ressignificação quanto pelo próprio grupo<br />
participante <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de. De tal forma que somente ouve e lê as “falas” que coincidem<br />
com as interpretações pré-formula<strong>da</strong>s. Diante dessa situação problematizadora, considero<br />
fun<strong>da</strong>mental que o processo de ressignificação possa ocorrer num processo de relações e<br />
inter-relações grupais e de formação continua<strong>da</strong>. E que neste espaço formativo as pessoas<br />
construam condições de manifestações livres do seu pensamento e possam dialogar com a<br />
interpretação e sistematização interpretativa realiza<strong>da</strong> pela coordenação <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de de<br />
ressignificação.<br />
O passo seguinte nesse processo é permitir que as interpretações de um grupo de<br />
<strong>docente</strong>s possam ser refleti<strong>da</strong>s por outro grupo que também se encontra num processo de<br />
reflexão sobre a sua <strong>práxis</strong> educativa e sua identi<strong>da</strong>de <strong>docente</strong>. Esse processo pode ter<br />
como objetivo central o diálogo hermenêutico entre pessoas e grupos distintos e similares,<br />
<strong>para</strong> evitar que a análise se reduza a único grupo e que a conclusão reflexiva desse grupo<br />
seja simplesmente transferi<strong>da</strong> <strong>para</strong> outros grupos e assim generalizado.<br />
Isto significa que o hermeneuta precisa continuamente realizar o exercício de ouvir<br />
o texto, de se deixar exortar pelo texto, deixar o texto falar, <strong>para</strong> que consiga ver e<br />
compreender as situações de vi<strong>da</strong>, os textos, as falas e as próprias experiências n<strong>uma</strong> nova<br />
perspectiva. Esse processo de exortação implica em alertar constantemente o hermeneuta a<br />
não fazer a leitura interpretativa com concepções preestabeleci<strong>da</strong>s, em que a interpretação<br />
534 Paul RICOEUR, Del texto a la acción, p. 192; ID., Do texto à ação, p. 209.