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aportes para uma hermenêutica da identidade e da práxis docente

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alg<strong>uma</strong>s vezes, o argumento <strong>da</strong> falta de tempo é <strong>uma</strong> desculpa e um exercício de<br />

descomprometimento, mas, na maioria <strong>da</strong>s vezes, é um fato real proporcionado pela<br />

necessi<strong>da</strong>de de se ter mais de um vínculo empregatício <strong>para</strong> suprir as necessi<strong>da</strong>des<br />

financeiras. Entretanto, esse agravante reforça as dificul<strong>da</strong>des de um processo de reflexão<br />

sobre a própria <strong>práxis</strong>, mas não é um fator que impossibilita a análise.<br />

A segun<strong>da</strong> atitude está diretamente relaciona<strong>da</strong> com a necessi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> pessoa<br />

reconhecer que o seu conhecimento pessoal é limitado e tem limitação. Nessa atitude se<br />

esconde, por um lado, o sentimento de onipotência, sendo a pessoa do <strong>docente</strong> alguém que<br />

sabe e que se encontra num patamar de pleno e amplo conhecimento. Ela é alguém que não<br />

precisa mais aprender, mas somente renovar a sua aprendizagem ou adquirir novas receitas<br />

e novi<strong>da</strong>des tecnológicas. Também está presente, por outro lado, o medo de que alguém<br />

possa conhecer e dominar um conteúdo mais do que ela própria. Essa atitude revela-se<br />

como <strong>uma</strong> dimensão antropológica, em que o <strong>docente</strong> tem dificul<strong>da</strong>de de reconhecer o seu<br />

“inacabamento” e a incapaci<strong>da</strong>de de conhecer tudo. Nessa dimensão, Paulo Freire afirma<br />

que o ser h<strong>uma</strong>no, “por ser inacabado, incompleto, não sabe de maneira absoluta. Somente<br />

Deus sabe de maneira absoluta” 327 . Freire acrescenta, ain<strong>da</strong>, que o “inacabamento do ser ou<br />

sua inconclusão é próprio <strong>da</strong> experiência vital” 328 . O processo desse reconhecimento<br />

antropológico, dessa condição h<strong>uma</strong>na, também é um reconhecimento teológico <strong>da</strong> sua<br />

existência diante de Deus. Refletir com <strong>docente</strong>s sobre a sua condição h<strong>uma</strong>na significa<br />

também colocar-se diante <strong>da</strong> transcendência e do Transcendente. Portanto, não é somente<br />

um processo de ressignificação antropológica, mas <strong>uma</strong> análise <strong>da</strong> inter-relação entre a<br />

teologia, a pe<strong>da</strong>gogia e a antropologia.<br />

A terceira atitude revela um pragmatismo, pois manifesta o desejo por receitas<br />

prontas e aprova<strong>da</strong>s e não <strong>uma</strong> reflexão sobre a prática. Essa atitude demonstra inclusive<br />

certa dificul<strong>da</strong>de reflexiva e revela a forte tendência <strong>para</strong> <strong>uma</strong> racionali<strong>da</strong>de técnica, além<br />

de <strong>uma</strong> concepção de que são as técnicas, os novos recursos tecnológicos que salvarão a<br />

educação. Essa resistência não é <strong>uma</strong> questão de oposição, mas <strong>uma</strong> dificul<strong>da</strong>de<br />

reflexiva 329 proveniente <strong>da</strong> própria formação do <strong>docente</strong>.<br />

A quarta atitude esconde a falta de firmeza e segurança <strong>da</strong> pessoa e o receio de que<br />

a alteração de <strong>uma</strong> prática significaria a per<strong>da</strong> <strong>da</strong> sua própria identi<strong>da</strong>de. Nesse caso, é<br />

327 Paulo FREIRE, Educação e mu<strong>da</strong>nça, p. 28.<br />

328 Paulo FREIRE, Pe<strong>da</strong>gogia <strong>da</strong> autonomia, saberes necessários à prática educativa, p. 55.<br />

329 No primeiro capítulo desta tese, desenvolvi <strong>uma</strong> reflexão sobre a formação <strong>docente</strong> e apontei<br />

alguns conceitos como os <strong>da</strong> racionali<strong>da</strong>de técnica e <strong>da</strong> reflexivi<strong>da</strong>de.

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