aportes para uma hermenêutica da identidade e da práxis docente
aportes para uma hermenêutica da identidade e da práxis docente
aportes para uma hermenêutica da identidade e da práxis docente
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
69<br />
Os saberes não são inatos, mas produzidos pela socialização, isto é,<br />
através do processo de imersão dos indivíduos nos diversos mundos<br />
socializados (famílias, grupos, amigos, escolas, etc.), nos quais eles<br />
constroem, em interação com os outros, sua identi<strong>da</strong>de pessoal e<br />
social. 135<br />
Essa afirmação reforça a crítica à idéia de que a identi<strong>da</strong>de <strong>docente</strong> é algo que vem<br />
do berço, que a pessoa já nasce <strong>para</strong> ser professor. E a única coisa que nos resta,<br />
posteriormente, é lapi<strong>da</strong>r, polir as arestas. Usando a metáfora do “diamante”, se diria que a<br />
pessoa é como a pedra bruta do diamante. A pedra preciosa já está no âmago <strong>da</strong> pedra.<br />
Nessa dimensão, a tarefa do <strong>docente</strong> dos cursos de formação de professores seria somente<br />
o de lapi<strong>da</strong>r a pedra e ter a habili<strong>da</strong>de de não estragar, não quebrar a gema preciosa. Ou de<br />
esculpir no mármore a imagem de <strong>docente</strong> que visualiza no interior <strong>da</strong> pedra. Tardiff<br />
coloca-se em oposição a esse pensamento, que é, muitas vezes, corrente entre grupos de<br />
professores, pois segui<strong>da</strong>mente se ouve a expressão:<br />
Se fôssemos concor<strong>da</strong>r com esse dito popular, teríamos de aceitar que não é<br />
possível que ocorram mu<strong>da</strong>nças nem transformações na identi<strong>da</strong>de do <strong>docente</strong>, mas<br />
somente aprimoramentos. Nós caminhamos na direção <strong>da</strong> reflexão de que a pessoa se torna<br />
<strong>docente</strong> através de influências, convívios e processos reflexivos, e isso de tal maneira que a<br />
pessoa pode “desvestir-se” de <strong>uma</strong> identi<strong>da</strong>de e “vestir-se” de <strong>uma</strong> nova identi<strong>da</strong>de ou<br />
“revestir-se” <strong>da</strong> identi<strong>da</strong>de <strong>docente</strong> na recuperação do sentido de ser como <strong>docente</strong>.<br />
Ken Zeichner ressalta a importância de pre<strong>para</strong>r <strong>docente</strong>s <strong>para</strong> que “ass<strong>uma</strong>m <strong>uma</strong><br />
atitude reflexiva em relação ao seu ensino e às condições sociais que os influenciam” 136 . O<br />
pensamento crítico de Zeichner coincide com a análise crítica de Pimenta sobre os modelos<br />
educativos presentes nas instituições educativa. A questão <strong>da</strong> atitude é muito mais do que<br />
<strong>uma</strong> prática, pois é um jeito de ser, é <strong>uma</strong> questão de personali<strong>da</strong>de, de identi<strong>da</strong>de, de ser-<br />
no-mundo. À questão <strong>da</strong>s “condições sociais que o influenciam”, que pode ser entendi<strong>da</strong><br />
como condicionamento e como pessoa-produto do meio sociocultural e <strong>da</strong>s estruturas<br />
135 Id., ibid., p. 71.<br />
136 Apud Selma PIMENTA, Formação de professores – saberes <strong>da</strong> docência e identi<strong>da</strong>de de<br />
professor, p. 57.<br />
“Ela nasceu <strong>para</strong><br />
ser professora.”