aportes para uma hermenêutica da identidade e da práxis docente
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adquirem <strong>uma</strong> dimensão simbólica, um significado simbólico no universo do discurso, <strong>da</strong><br />
reflexão, <strong>da</strong> significação com o si-mesmo. O sonho, o onírico é <strong>uma</strong> forma de<br />
manifestação, não a única, do símbolo, mas que sempre remete a um sentido oculto. É na<br />
narrativa do sonho que ocorre a simbolização, a dimensão simbólica, e não no sonho por si<br />
só. É na narrativa do sonho que vai se constituindo o seu sentido. Ou seja, o sonho só nos é<br />
acessível, só faz sentido, no despertar. É na linguagem que o cosmos, o desejo e a<br />
imaginação poética ascendem à palavra. O que caracteriza a riqueza do símbolo é o seu<br />
caráter multifacetado, a sua linguagem multívoca. O símbolo, como tal, não apresenta <strong>uma</strong><br />
interpretação unívoca, única e exclusiva. No momento em que a interpretação do símbolo<br />
se tornar unívoca, ela com facili<strong>da</strong>de se transforma em signo, pois se fecha, se reduz, se<br />
limita. Nessa direção, podemos dizer que a teoria freudiana está mais próxima do signo do<br />
que do símbolo, pois reduz a interpretação dos símbolos à questão onírica. E, esta, à<br />
questão sexual, à questão fálica. Ela é, dessa maneira, um processo de regressão, de olhar<br />
essencialmente <strong>para</strong> trás.<br />
Em oposição ao pensamento regressionista de Sigmund Freud, Ricoeur afirma que<br />
os símbolos são “portadores de dois vetores: repetem nossa infância e exploram nossa vi<strong>da</strong><br />
adulta” 277 . Para Ricoeur, os símbolos autênticos são ver<strong>da</strong>deiramente regressivos e<br />
progressivos, pois é mergulhando na infância e revivendo-a oniricamente que os símbolos<br />
representam a projeção <strong>da</strong>s próprias possibili<strong>da</strong>des. Ele cria, assim, um movimento<br />
dinâmico de regressão-progressão, de regressão ao inconsciente e <strong>da</strong> progressão à<br />
consciência de si.<br />
Na sua reflexão sobre a moderni<strong>da</strong>de e na busca por opor a problemática do<br />
símbolo à visão cartesiana, que pecou pela busca <strong>da</strong> objetivi<strong>da</strong>de radical, e à husserliana do<br />
ponto de parti<strong>da</strong> e <strong>da</strong> busca do sentido original, Ricoeur afirma que “queremos recarregar a<br />
nossa linguagem. (...) Não é o pesar <strong>da</strong>s atlânti<strong>da</strong>s desmorona<strong>da</strong>s que nos anima, mas a<br />
esperança de <strong>uma</strong> recriação <strong>da</strong> linguagem” 278 . Ele não prevê auxílio expressivo na<br />
categoria <strong>da</strong> suspeita, <strong>da</strong> desconstrução, <strong>da</strong> negação, <strong>da</strong>s rupturas e nem na regressão, pois<br />
dá expressiva ênfase ao olhar <strong>para</strong> a frente, <strong>para</strong> a projeção, <strong>para</strong> a fé. Por essas e outras<br />
razões, Ricoeur é chamado de “hermeneuta <strong>da</strong> confiança” 279 , pois se dirige <strong>para</strong> frente,<br />
<strong>para</strong> o mundo que nos abre o sentido a ser interpretado. No seu posicionamento, utiliza,<br />
277 Paul RICOEUR, Da interpretação, p. 401.<br />
278 Paul RICOEUR, Conflito <strong>da</strong>s interpretações, p. 243.<br />
279 Jean GRONDIN, Introdução à <strong>hermenêutica</strong> filosófica, p. 44. Benno DISCHINGER,<br />
Apresentação, p. 17.