aportes para uma hermenêutica da identidade e da práxis docente
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apresentado, de que o mito e o símbolo não podem ser manipulados e nem domesticados,<br />
assim como o próprio self não o pode.<br />
Glauco Ulson afirma que:<br />
Os mitos se referem sempre à reali<strong>da</strong>de arquetípica, isto é, a situações a<br />
que todo ser h<strong>uma</strong>no se de<strong>para</strong> ao longo de sua vi<strong>da</strong>, decorrentes de sua<br />
condição h<strong>uma</strong>na. (...) Os mitos explicam, auxiliam e promovem as<br />
transformações psíquicas que se passam, tanto no nível individual, como<br />
no coletivo de <strong>uma</strong> determina<strong>da</strong> cultura. (...) Eles revelam e induzem as<br />
transformações <strong>da</strong> energia psíquica que acontecem no inconsciente, seja<br />
na sua dimensão pessoal, seja na coletiva. 554<br />
Glauco Ulson relaciona os mitos às condições e situações <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> h<strong>uma</strong>na e, dessa<br />
forma, revela a sua categoria arquetípica. Diante disso, a questão <strong>hermenêutica</strong> do mito<br />
tem relação com a compreensão <strong>da</strong> construção <strong>da</strong> própria identi<strong>da</strong>de do ser h<strong>uma</strong>no, pois,<br />
por um lado, sendo arquetípico, o mito une a reali<strong>da</strong>de de indivíduos à reali<strong>da</strong>de e situação<br />
existencial de outros indivíduos e culturas. Por outro lado, ele auxilia na compreensão <strong>da</strong><br />
caracterização de identi<strong>da</strong>des que se manifestam na <strong>práxis</strong> educativa, seja através <strong>da</strong> tarefa<br />
<strong>docente</strong> seja de sua própria execução. Além disso, por estar relacionado com o self, o mito<br />
e o símbolo são manifestações <strong>da</strong> integrali<strong>da</strong>de do ser h<strong>uma</strong>no.<br />
Essa compreensão também aponta <strong>para</strong> a importância dos mitos como elementos<br />
narrativos <strong>da</strong> ressignificação e ressimbolização <strong>da</strong> identi<strong>da</strong>de <strong>docente</strong>. Através <strong>da</strong>s<br />
narrativas e <strong>da</strong>s dinâmicas simbólicas com os mitos, acontecem processos de individuação<br />
e auto-regulação, fortalecendo o self. E quanto mais representativo for o mito <strong>para</strong> um<br />
grupo de professores ou <strong>para</strong> <strong>uma</strong> comuni<strong>da</strong>de escolar, tanto mais ele pode se transformar<br />
num self grupal. Entretanto, sempre se deve estar atento <strong>para</strong> o perigo de enclausuramento<br />
em guetos culturais e pe<strong>da</strong>gógicos ou do perigo de projeções e condicionamentos <strong>da</strong> parte<br />
de quem coordena a ativi<strong>da</strong>de de ressignificação.<br />
Entretanto, quanto mais as “transformações <strong>da</strong> energia psíquica” forem realiza<strong>da</strong>s<br />
comunitariamente, nas relações interpessoais <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de escolar, através de <strong>uma</strong><br />
dialogici<strong>da</strong>de libertadora, tanto mais efetivas elas serão, farão a inter-relação entre o<br />
consciente e o inconsciente, a correlação com a reali<strong>da</strong>de pessoal e comunitária e<br />
fortalecerão o self e a relação “Eu-Outro”. Esses processos de correlação são possíveis por<br />
causa do resgate <strong>da</strong> alteri<strong>da</strong>de refleti<strong>da</strong> <strong>da</strong> teoria de Paul Ricoeur.<br />
554 Glauco ULSON, Mitos escatológicos gregos, p. 43.