aportes para uma hermenêutica da identidade e da práxis docente
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de <strong>docente</strong>s 556 . A partir <strong>da</strong> reflexão sobre o mito de Camelot e a imagem simbólica do<br />
“pastor de ovelhas perdi<strong>da</strong>s”, outros mitos começaram a ser integrados na reflexão sobre a<br />
identi<strong>da</strong>de <strong>docente</strong>. Na narração que as pessoas faziam sobre a sua identi<strong>da</strong>de <strong>docente</strong>,<br />
foram surgindo imagens e representações simbólicas presentes em outros mitos. Comecei,<br />
então, a proporcionar a reflexão sobre os mitos do “graal”, <strong>da</strong> “árvore <strong>da</strong> sabedoria”, de<br />
Narciso, de Pandora, de Prometeu e fui agregando as histórias contemporâneas de<br />
Robinson Crusoé, de Carlitos o Vagabundo, de Dom Quixote e de Fausto. Essa reflexão foi<br />
reforça<strong>da</strong> com os <strong>aportes</strong> de Alícia Fernandez e especialmente de Carlos Amadeu<br />
Byington.<br />
Na reflexão sobre os mitos e especialmente na dinâmica dialógica no trabalho com<br />
grupos de <strong>docente</strong>s que participam <strong>da</strong> formação continua<strong>da</strong>, está presente a preocupação de<br />
não transferir as imagens simbólicas e as construções míticas de quem coordena a<br />
ativi<strong>da</strong>de educativa às pessoas que dela participam. Procura-se evitar ain<strong>da</strong> que a dinâmica<br />
de trabalho seja solipsista, em que a pessoa que coordena fala apenas consigo mesma e<br />
<strong>para</strong> si mesma, ou narcísica, em que ela vê apenas a sua própria imagem e ouve somente a<br />
sua própria voz, de tal maneiraque a fala <strong>da</strong>s pessoas se torne unicamente <strong>uma</strong> reprodução<br />
<strong>da</strong> fala de quem já falou primeiro. E, nesse caso, o fato de transmitir, de partilhar a fala <strong>da</strong>s<br />
pessoas do grupo não significa necessariamente que se esteja assegurando o pensamento<br />
<strong>da</strong>s pessoas, pois não houve, nessa situação, <strong>uma</strong> ressignificação, <strong>uma</strong> apropriação<br />
reflexiva, mas <strong>uma</strong> devolução <strong>da</strong>s falas e <strong>da</strong>s idéias <strong>da</strong> coordenação do trabalho. Mais do<br />
que um alerta metodológico, surge aqui a preocupação com a atitude dialógica. Diante<br />
disso, faz-se o alerta, a exortação às pessoas que sistematizam e estabelecem relações<br />
interpessoais e inter-grupais, nas ativi<strong>da</strong>des reflexivas de ressignificação e ressimbolização<br />
<strong>da</strong> identi<strong>da</strong>de <strong>docente</strong>, <strong>para</strong> que sejam fiéis ao pensamento <strong>da</strong>s pessoas e pacientes no<br />
processo pessoal e grupal e assegurem os espaços de livre expressão.<br />
Diante do movimento dialético de explicar e compreender o mito e em última<br />
instância o texto, o processo interpretativo “não é o que o autor quis dizer, mas aquilo<br />
sobre que trata o texto” 557 . Nesta linha de reflexão ricoeuriana, torna-se importante<br />
perceber que “espécie de mundo” se abre, é destacado com a interpretação profun<strong>da</strong> e<br />
comunitária do texto. Ou seja, a questão central passa a ser: que espécie de mundo<br />
556 Este processo inicial de reflexão se restringiu aos cursos de especialização. Posteriormente,<br />
n<strong>uma</strong> fase mais recente, após a delimitação do uso de alguns mitos, a reflexão foi realiza<strong>da</strong> com<br />
um grupo mais restrito.<br />
557 Paul RICOEUR, Do texto à ação, p. 208.