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aportes para uma hermenêutica da identidade e da práxis docente

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utilizados <strong>para</strong> aumentar o medo e o sentimento de culpa. Nesse caso, não ocorre um<br />

processo de correlação, nem <strong>uma</strong> inter-relação dialógica subjetiva, nem <strong>uma</strong> individuação<br />

transcendente, mas <strong>uma</strong> projeção, <strong>uma</strong> construção individualista, um “sombreamento”.<br />

Na construção simbólica <strong>da</strong> <strong>práxis</strong> educativa, muitas vezes o <strong>docente</strong>, devido o seu<br />

sentimento de frustração, ansie<strong>da</strong>de e temor, assume <strong>para</strong> si ou constitui <strong>para</strong> si a culpa do<br />

fracasso de estu<strong>da</strong>ntes em particular e <strong>da</strong> educação em geral. Ele assume e cria <strong>uma</strong> culpa<br />

universaliza<strong>da</strong> por causa de algum ou de alguns erros cometidos individualmente. Esse<br />

assumir não é <strong>uma</strong> opção pessoal, como se fosse um martírio masoquista ou um<br />

autoflagelo, mas <strong>uma</strong> construção e <strong>uma</strong> imposição ideológica, cultural e socialmente<br />

aceita. Cultural e religiosamente a culpa é atribuí<strong>da</strong> ao pecado original do ser h<strong>uma</strong>no 403 ,<br />

como conseqüência <strong>da</strong> desobediência a Deus, transformando-se, obviamente, em castigo.<br />

A situação do <strong>docente</strong> torna-se ain<strong>da</strong> mais complica<strong>da</strong>, pois os erros e fracassos pessoais<br />

assumem <strong>uma</strong> conotação sagra<strong>da</strong> e divina. Dessa forma, não resolve mais buscar o<br />

aperfeiçoamento <strong>da</strong> sua prática e nem a revisão <strong>da</strong> sua <strong>práxis</strong>, pois to<strong>da</strong>s as tentativas<br />

resultam em fracasso, agravando assim ain<strong>da</strong> mais a problemática. Devido a isso, é<br />

necessário apropriar-nos do significado <strong>da</strong> simbólica do mal.<br />

Paul Ricoeur é de aju<strong>da</strong> nesta análise sobre a natureza h<strong>uma</strong>na e a culpabili<strong>da</strong>de ao<br />

desenvolver <strong>uma</strong> reflexão teológica e filosófica sobre a simbólica do mal. A intenção é<br />

tornar evidente que não se pode tratar <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de <strong>docente</strong> somente n<strong>uma</strong> perspectiva<br />

pe<strong>da</strong>gógica, sociológica e psicológica, mas que se faz necessário analisar a contribuição <strong>da</strong><br />

teologia e <strong>da</strong> filosofia. Paul Ricoeur afirma que a sua intenção é desenvolver <strong>uma</strong><br />

<strong>hermenêutica</strong> recuperadora no plano do símbolo e refletir sobre<br />

a significação do trabalho teológico cristalizado em um conceito como o<br />

de pecado original. Refletir sobre a significação é, pois reencontrar as<br />

intenções do conceito, seu poder de remetimento ao que não é conceito,<br />

mas anúncio, anúncio que denuncia o mal e anúncio que pronuncia a<br />

absolvição. Em s<strong>uma</strong>, refletir sobre a significação é de <strong>uma</strong> certa forma<br />

desfazer o conceito, decompor suas motivações e, por <strong>uma</strong> espécie de<br />

análise intencional, reencontrar as setas de sentido que visam o próprio<br />

querigma. 404<br />

Paul Ricoeur revela o duplo sentido <strong>da</strong> simbólica do mal, pois ao mesmo tempo que<br />

denuncia o mal, a sua existência e seus malefícios, também anuncia a absolvição, a<br />

recuperação do sentido <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> e a redignificação <strong>da</strong> existência h<strong>uma</strong>na. A compreensão de<br />

403 Esta reflexão em torno dessa temática não se concentrará na questão dogmática do pecado<br />

original, mas no processo de simbolização <strong>da</strong> simbólica do mal.<br />

404 Paul RICOEUR, O conflito <strong>da</strong>s interpretações, p. 227s.

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