aportes para uma hermenêutica da identidade e da práxis docente
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Miguel Arroyo manifesta não estar convencido, na atual situação educacional, de<br />
que a politização de <strong>uma</strong> prática e de um ofício seja o melhor caminho. Nessa perspectiva,<br />
a análise concentra-se mais na reflexão sobre a conjuntura macro-institucional e o sistema<br />
educativo e na contextualização <strong>da</strong>s opções político-partidárias. O autor destaca que as<br />
tensões de consciência explora<strong>da</strong>s pe<strong>da</strong>gogicamente no aprendizado do ofício exercem um<br />
papel extremamente relevante “<strong>para</strong> a superação de imagens <strong>docente</strong>s e na construção de<br />
auto-imagens” 22 .<br />
Miguel Arroyo afirma que a Lei nº 5692/71, dos tempos autoritários “gradeou o<br />
conhecimento e legitimou <strong>uma</strong> imagem estreita <strong>da</strong> docência” e que, conseqüentemente,<br />
temos profissionais “imbuídos de <strong>uma</strong> auto-imagem reduzi<strong>da</strong> e fecha<strong>da</strong> <strong>da</strong> função social<br />
deles e <strong>da</strong> escola” 23 e que, durante as últimas déca<strong>da</strong>s, a visão tecnicista e a pretensão de<br />
neutralismo conteudista tentou convencer que a tarefa do professor é “ensinar” os<br />
conteúdos úteis ao mercado. Num olhar histórico, podemos afirmar com Arroyo que<br />
“desde a reforma universitária de 1968 e desde a Lei nº 5692/71, os profissionais <strong>da</strong> Escola<br />
Básica são (de)formados, licenciados <strong>para</strong> cumprir esse papel de ensinantes apenas e não<br />
de educadores” 24 . Considerando essa análise crítica de Arroyo, evidenciam-se as<br />
dificul<strong>da</strong>des de reflexão crítica, tornando-se ain<strong>da</strong> mais necessário <strong>uma</strong> ressignificação <strong>da</strong><br />
identi<strong>da</strong>de. Essa ressignificação passa por um olhar crítico <strong>da</strong> sua própria formação e <strong>uma</strong><br />
retoma<strong>da</strong> <strong>da</strong> trajetória profissional pessoal. O olhar retrospectivo, o “olhar-se no espelho”,<br />
pode ser um elemento fun<strong>da</strong>mental desse processo de construção <strong>da</strong> sua própria identi<strong>da</strong>de<br />
<strong>docente</strong>.<br />
O educador Jacques Therrien 25 avalia que a reforma educacional de 1971 provocou<br />
<strong>uma</strong> fragmentação dos conhecimentos e <strong>da</strong> formação de professores especializados. O<br />
conhecimento e a formação dos <strong>docente</strong>s não são plurais e nem integradores <strong>da</strong>s áreas de<br />
conhecimento, mas concentram-se em áreas específicas.<br />
Miguel Arroyo afirma que temos “gerações de <strong>docente</strong>s filhos e filhas <strong>da</strong> Lei<br />
5692/71 e <strong>da</strong> tecnocracia, do autoritarismo, <strong>da</strong> modernização produtiva, do modelo<br />
científico utilitário, e agora do pensamento único neoliberal” 26 . Selma Pimenta analisa que<br />
o Ensino Normal, nesta legislação, torna-se <strong>uma</strong> <strong>da</strong>s habilitações profissionalizantes,<br />
assume um caráter difuso no Ensino Médio e perde assim, quase totalmente, a sua<br />
22 Id., ibid., p. 209.<br />
23 Id., ibid., p. 77.<br />
24 Id., ibid., p. 81.<br />
25 Jacques THERRIEN. Saberes <strong>da</strong> experiência, identi<strong>da</strong>de e competência profissional, p. 13.<br />
26 Miguel G. ARROYO, Ofício de mestre: imagens e auto-imagens, p. 77.