aportes para uma hermenêutica da identidade e da práxis docente
aportes para uma hermenêutica da identidade e da práxis docente
aportes para uma hermenêutica da identidade e da práxis docente
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
256<br />
“resgate <strong>da</strong> vez e voz”. Entretanto, o resgate <strong>da</strong> digni<strong>da</strong>de, <strong>da</strong> autentici<strong>da</strong>de e do sentido de<br />
ser não se faz por decreto, ele é processual. A problemática, contudo, consiste em como<br />
desencadear o processo de resgate de vez e voz? Como criar o espaço libertador <strong>da</strong> “fala<br />
primeira” e não <strong>da</strong> “fala segun<strong>da</strong>”, de poder falar e não só de repetir? Diante dessa<br />
problemática, reafirmamos a importância do pensamento e <strong>da</strong> atitude freireanos <strong>da</strong><br />
“paciência histórica” e <strong>da</strong> perspectiva teológica <strong>da</strong> metánoia processual, além <strong>da</strong><br />
importância <strong>da</strong> narrativa sobre a sua auto-percepção. Não custa, porém, relembrar que não<br />
estamos nos referindo aos casos patológicos, e sim, às situações de possíveis<br />
ressignificações e ressimbolizações, em que resta “carne” no corpo definhado, em que é<br />
possível olhar-se no espelho e “desvestir-se” de <strong>uma</strong> reali<strong>da</strong>de de sofrimento.<br />
14.3. O mito de Narciso<br />
Italiano Monini 572 , baseando-se no poeta Ovídio, apresenta a versão de que Narciso<br />
era um jovem de rara beleza e que despertava paixão e desejo nas mulheres, mas que não<br />
se importava com nenh<strong>uma</strong> delas. Narciso não se interessou nem por Eco, a mais bela <strong>da</strong>s<br />
ninfas. Eco seguia os passos de Narciso e este, ao vê-la, rejeitou-a. Eco, envergonha<strong>da</strong>,<br />
retira-se <strong>para</strong> <strong>uma</strong> gruta solitária. Narciso não rejeita somente Eco, mas também to<strong>da</strong>s as<br />
demais ninfas. Uma <strong>da</strong>s donzelas rejeita<strong>da</strong>s, entretanto, formula um voto aos deuses: “Que<br />
aquele que não ama os outros se apaixone por si próprio”. O pedido é atendido e quando<br />
Narciso se debruça sobre <strong>uma</strong> fonte <strong>para</strong> beber, vê seu rosto refletido no espelho de água, e<br />
se apaixona perdi<strong>da</strong>mente pela sua imagem. Nesse relato, Narciso afirma:<br />
Agora sei o que tenho feito sofrer, pois estou loucamente apaixonado por<br />
mim mesmo e, no entanto, como hei de chegar ao encanto que vejo<br />
espelhado nas águas? Entretanto não sou capaz de abandoná-lo e só a<br />
morte me poderá libertar. 573<br />
Narciso fica <strong>para</strong>do diante <strong>da</strong> sua imagem, definhando pouco a pouco em<br />
contemplação <strong>da</strong> sua própria imagem. E diante dela, inerte, imóvel, <strong>para</strong>lisado por si<br />
mesmo, como n<strong>uma</strong> auto-<strong>para</strong>lisação, ele morre. Tanto Narciso quanto Eco definham e<br />
seus corpos se perdem na impossibili<strong>da</strong>de de estabelecer <strong>uma</strong> relação de alteri<strong>da</strong>de.<br />
572 Italiano MONINI, Mitologia grego-ju<strong>da</strong>ico e racionalismo moderno, p. 37s.<br />
573 Id., ibid., p. 38..