aportes para uma hermenêutica da identidade e da práxis docente
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aponta<strong>da</strong>s não contribuem <strong>para</strong> gerar novas práticas educativas, “apenas denuncia<br />
culpados” 119 .<br />
Ao mesmo tempo, é possível constatar, em primeiro lugar, que o <strong>docente</strong><br />
desenvolve muitas dessas ações <strong>para</strong>lelamente à sua tarefa de ensino. Ele o faz por <strong>uma</strong><br />
questão h<strong>uma</strong>nitária, por <strong>uma</strong> perspectiva de ideal. Num segundo lugar, ele realiza essas<br />
ações porque elas se relacionam com os arquétipos, com os mitos fun<strong>da</strong>ntes <strong>da</strong> sua prática<br />
educativa. Esses dois aspectos, contudo, estão situados n<strong>uma</strong> dimensão de<br />
interdependência, pois um é a expressão do outro.<br />
E como essas ações não resultam em mu<strong>da</strong>nças ou transformações, mas somente<br />
amenizam a situação, elas resultam em fracasso e sentimento de culpa. O professor é<br />
novamente considerado o culpado. Conforme o filósofo e teólogo Paul Ricoeur, na sua<br />
reflexão sobre a simbólica do mal 120 , é importante destacar que, nesses casos, o mal<br />
preexiste à vontade <strong>da</strong> pessoa e ele não surge com o erro do ser h<strong>uma</strong>no. Nessa análise,<br />
Ricoeur procura apontar que o mal, o pecado, existe independente <strong>da</strong> vontade h<strong>uma</strong>na ou<br />
dos atos h<strong>uma</strong>nos. Conseqüentemente, a pessoa não é culpa<strong>da</strong> pela existência do mal. Essa<br />
concepção de Ricoeur sobre a simbólica do mal é um elemento importante <strong>para</strong> refletir<br />
com educadores e educadoras sobre o sentimento de culpa e fracasso presente nas<br />
ativi<strong>da</strong>des de tantos <strong>docente</strong>s.<br />
Selma Pimenta, ao analisar as transformações necessárias à <strong>práxis</strong> educativa dos<br />
<strong>docente</strong>s, aponta três modelos que têm marcado a prática <strong>docente</strong> institucional 121 : a)<br />
enfoque tradicional ou prático-artesanal; b) enfoque técnico ou academicista e c) enfoque<br />
hermenêutico ou reflexivo. No primeiro enfoque, a finali<strong>da</strong>de do ensino é a de transmitir os<br />
conhecimentos, aprimorar as habili<strong>da</strong>des e desenvolver os modos, usos e costumes e<br />
conservando os modos de pensar e agir “tradicionalmente consagrados e socialmente<br />
valorizados” 122 . A formação do professor se dá na prática. Ele aprende fazendo. A<br />
docência é considera<strong>da</strong> um “dom inato”, pois a pessoa já nasce como professor; ela é um<br />
diamante bruto que precisa ser lapi<strong>da</strong>do, ou <strong>uma</strong> obra-prima conti<strong>da</strong> n<strong>uma</strong> pedra que<br />
precisa ser esculpi<strong>da</strong>. Contudo, há o elemento e argumento de que nos cursos de formação<br />
<strong>docente</strong> sempre aparece algum lapi<strong>da</strong>dor que estraga parte <strong>da</strong> pedra, deixando-a arranha<strong>da</strong><br />
ou irrecuperável.<br />
119 Id., ibid., p. 182.<br />
120 Paul RICOEUR, O conflito <strong>da</strong>s interpretações: ensaios de <strong>hermenêutica</strong>, p. 230-240.<br />
121 Selma Garrido PIMENTA, Docência no ensino superior, p. 183-187.<br />
122 Id., ibid., p. 183s.