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aportes para uma hermenêutica da identidade e da práxis docente

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271<br />

Bulfinch afirma que, dessa maneira, “Prometeu tornou-se símbolo <strong>da</strong> abnega<strong>da</strong> resistência<br />

a um sofrimento imerecido e <strong>da</strong> força de vontade de resistir à opressão” 595 .<br />

Prometeu revela <strong>uma</strong> dupla ação que é, ao mesmo tempo, oposta em si. Ele mostra-<br />

se insubordinado, colocando-se contra a força manipuladora do deus dos deuses, e, ao<br />

mesmo tempo, submisso, resistente e perseverante, pois aceita o castigo imerecido e não se<br />

arrepende do seu ato. A sua insubordinação não foi <strong>para</strong> benefício próprio, mas em favor<br />

<strong>da</strong> h<strong>uma</strong>ni<strong>da</strong>de. A sua desobediência não foi <strong>para</strong> levar vantagens pessoais. Há, portanto,<br />

na insubordinação um ideal que não está centrado em si. Há <strong>uma</strong> luta em favor <strong>da</strong>s<br />

pessoas. Prometeu não é um simples contestador, que mostra insatisfação com tudo e com<br />

to<strong>da</strong>s as pessoas, não é alguém que contesta pelo prazer de contestar.<br />

Prometeu é personagem de <strong>uma</strong> narrativa que procura revelar como se deram as<br />

condições <strong>para</strong> a preservação <strong>da</strong> h<strong>uma</strong>ni<strong>da</strong>de e foi se constituindo n<strong>uma</strong> figura mítica pela<br />

correlação entre a história e a existência h<strong>uma</strong>nas. A importância do ato de Prometeu<br />

transformou este ato num símbolo, e a força <strong>da</strong> imagem do roubo do fogo pode ser<br />

substituí<strong>da</strong> por outras ações com o mesmo impacto existencial. Prometeu se tornou, assim,<br />

mítico porque a sua história e o seu ato são supratemporais.<br />

O alvo de Prometeu foi preciso: atingir o âmago <strong>da</strong> possibili<strong>da</strong>de de sobrevivência<br />

do ser h<strong>uma</strong>no. Seguindo a linha de pensamento do teólogo Paul Tillich, pode-se dizer que<br />

a ação de Prometeu atinge a “incondicionali<strong>da</strong>de” <strong>da</strong> existência h<strong>uma</strong>na, as “coisas<br />

últimas”, a pergunta vital <strong>da</strong> sua própria existenciali<strong>da</strong>de. Prometeu aceitou o sacrifício<br />

pessoal <strong>para</strong> que a h<strong>uma</strong>ni<strong>da</strong>de fosse menos sacrifica<strong>da</strong>. Transforma-se, assim, num<br />

símbolo de resistência e sacrifício pessoal em favor <strong>da</strong>s pessoas. O seu sofrimento não<br />

deve, contudo, ser entendido como masoquismo, como prazer em sofrer, mas<br />

compreendido como decorrência de <strong>uma</strong> causa maior. Ele não é a pessoa que fica <strong>da</strong>ndo<br />

“soco em ponta de faca” ou “cabeça<strong>da</strong> na parede” só <strong>para</strong> ver o efeito ou <strong>para</strong> sentir a dor.<br />

O gesto de Prometeu carrega, ao mesmo tempo, o sentimento de absurdo e de<br />

admiração. Quem seria tão tolo de querer enganar o deus dos deuses? Quem seria tão<br />

irracional que desafiaria o controlador do poder? Quem seria tão imprudente que se<br />

colocaria contra quem lhe concede o sustento? Quem seria tão inconseqüente que<br />

contestaria quem pode lhe causar a vergonha e a desonra pessoal?<br />

Humberto Braga classifica Prometeu como um mito h<strong>uma</strong>no que se enquadra nas<br />

características contemporâneas. Ele afirma que:<br />

595 Id., ibid., p. 26.

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