aportes para uma hermenêutica da identidade e da práxis docente
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Os símbolos e os mitos têm <strong>uma</strong> relação direta com os sujeitos que os ouvem e os<br />
narram. Eles não se restringem a ser unicamente <strong>uma</strong> história. Eles auxiliam a pessoa a<br />
compreender-se melhor e a desenvolver a apropriação de si. Há, dessa forma, <strong>uma</strong> relação<br />
entre símbolo, interpretação e apropriação de si. 292 O símbolo, conforme o pensamento de<br />
Ricoeur, permite o acesso à experiência fun<strong>da</strong>mental do ser h<strong>uma</strong>no. Conforme a análise<br />
de Siebeneichler 293 , <strong>para</strong> Ricoeur, o homem “não pode contentar-se com a pura<br />
racionali<strong>da</strong>de lógica, mas tem que debruçar-se sobre o símbolo que só é decodificável<br />
através de interpretações”. Portanto, a interpretação e a apropriação de si é <strong>uma</strong> questão<br />
<strong>hermenêutica</strong>, pois é “fruto de interpretações decodificadoras sucessivas” 294 .<br />
Em outro texto, Ricoeur afirma que “to<strong>da</strong> <strong>hermenêutica</strong> é, explícita ou<br />
implicitamente, compreensão de si mesmo mediante a compreensão do outro” 295 . É nesse<br />
ponto que Ricoeur introduz o <strong>para</strong>digma <strong>da</strong> alteri<strong>da</strong>de. Este será fun<strong>da</strong>mental na<br />
compreensão <strong>da</strong> <strong>hermenêutica</strong> do Si-mesmo, em que ele desenvolve <strong>uma</strong> reflexão dialética<br />
<strong>da</strong> relação entre ipsei<strong>da</strong>de e mesmi<strong>da</strong>de e <strong>da</strong> dialética <strong>da</strong> ipsei<strong>da</strong>de e alteri<strong>da</strong>de. O<br />
acréscimo <strong>da</strong> alteri<strong>da</strong>de é fun<strong>da</strong>mental <strong>para</strong> se evitar o perigo do solipsismo, ou <strong>da</strong><br />
centração do eu no próprio eu. Ou, usando <strong>uma</strong> linguagem metafórica, se poderia dizer:<br />
“evitar a concentração do olhar no próprio umbigo”.<br />
Para concluir esta reflexão sobre a concepção ricoeuriana de símbolos,<br />
compreendemos que:<br />
Não há autocompreensão que não esteja mediatiza<strong>da</strong> por signos,<br />
símbolos e textos; a autocompreensão coincide, em última instância, com<br />
a interpretação aplica<strong>da</strong> a estes termos mediadores. 296<br />
Na prática educativa, isto significa que o processo de autocompreensão tem <strong>uma</strong><br />
dimensão mais ampla e profun<strong>da</strong> do que a questão do autoconhecimento, pois enquanto<br />
este pode cair no perigo do racionalismo <strong>da</strong>s relações e <strong>da</strong>s atitudes individuais, aquele<br />
proporciona <strong>uma</strong> perspectiva de individuação e conhecimento de si-mesmo.<br />
O teólogo Eduardo Gross conclui a sua reflexão sobre Ricoeur, afirmando que<br />
“após a crítica surge (...) o símbolo como elemento imprescindível <strong>para</strong> a reelaboração do<br />
292 José Manuel HELENO, Hermenêutica e ontologia em Paul Ricoeur, p. 119.<br />
293 Flávio Beno SIEBENEICHLER, A existência h<strong>uma</strong>na à luz dos textos e dos símbolos: a<br />
<strong>hermenêutica</strong> fenomenológica de Paul Ricoeur, p. 108.<br />
294 Idem.<br />
295 Paul RICOEUR, Conflito <strong>da</strong>s interpretações, p. 18.<br />
296 Paul RICOEUR, Del texto a la acción, p. 31.