aportes para uma hermenêutica da identidade e da práxis docente
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mata a borboleta. No caso <strong>da</strong> pessoa, a ruptura também precisa acontecer de dentro <strong>para</strong><br />
fora, precisa partir <strong>da</strong> vontade e <strong>da</strong> decisão <strong>da</strong> própria pessoa. Qualquer ação de fora<br />
somente será <strong>uma</strong> transferência de pensamento e de dependência e não <strong>uma</strong> ação<br />
libertadora <strong>da</strong> própria pessoa. É necessário que a própria pessoa tome a decisão de<br />
desobedecer, de fazer a ruptura.<br />
A desobediência dos dois personagens míticos, Adão e Eva, fez com que os seus<br />
olhos se abrissem e eles reconhecessem o estado de nudez em que se encontravam. Ver a<br />
nudez significa perceber a sua própria reali<strong>da</strong>de, é descobrir a sua identi<strong>da</strong>de. Ao abrir os<br />
olhos, ca<strong>da</strong> um dos personagens percebeu em que estado se encontrava e tomou<br />
consciência <strong>da</strong> sua identi<strong>da</strong>de e <strong>da</strong> sua singulari<strong>da</strong>de. Portanto, a expressão “abriram-se os<br />
olhos” tem <strong>uma</strong> forte conotação psicocognitiva e de construção <strong>da</strong> identi<strong>da</strong>de, pois revela<br />
um conhecimento e <strong>uma</strong> descoberta de si mesmo, aponta <strong>para</strong> a sua ipsei<strong>da</strong>de. Abrir os<br />
olhos significa também a descoberta do estágio em que se encontra o seu conhecimento e a<br />
sua relação com o ensino e com a aprendizagem.<br />
Esse processo de “abrir os olhos” é significativamente complexo e difícil nos<br />
processos <strong>da</strong> <strong>práxis</strong> educativa de <strong>docente</strong>s. Diversas vezes, constata-se que o <strong>docente</strong><br />
transfere ao estu<strong>da</strong>nte o motivo <strong>da</strong> dificul<strong>da</strong>de de aprendizagem, quando, na ver<strong>da</strong>de, o<br />
problema reside no ato de ensinar do professor. Nessa análise, vemos <strong>docente</strong>s usarem o<br />
argumento: “É o estu<strong>da</strong>nte que não consegue aprender e não o <strong>docente</strong> que não sabe<br />
ensinar”. Uma outra forma de manifestação dos “objetos intocáveis” são os conteúdos, os<br />
conhecimentos, que o <strong>docente</strong> não disponibiliza ao estu<strong>da</strong>nte, pois tem receio que o<br />
domínio do estu<strong>da</strong>nte supere o seu. A dificul<strong>da</strong>de de “abrir os olhos” também se manifesta<br />
na recusa, consciente e inconsciente, do <strong>docente</strong> ouvir a opinião <strong>da</strong>s pessoas sobre o seu<br />
trabalho educativo, de permitir que estu<strong>da</strong>ntes e colegas façam <strong>uma</strong> avaliação <strong>da</strong> sua <strong>práxis</strong><br />
educativa.<br />
A desobediência é, portanto, a oportuni<strong>da</strong>de <strong>da</strong> descoberta, é a manifestação <strong>da</strong><br />
curiosi<strong>da</strong>de, é a tentativa de um novo início, é a possibili<strong>da</strong>de do impulso <strong>para</strong> a<br />
dinamici<strong>da</strong>de criativa <strong>da</strong> personali<strong>da</strong>de. Ou seja, sem a desobediência, sem a ruptura, não<br />
há o acesso ao conhecimento e nem à ressignificação <strong>da</strong> <strong>práxis</strong> educativa. A desobediência<br />
não deveria gerar no <strong>docente</strong> o sentimento de culpa e de pecado, mas o de<br />
operacionalização de novas possibili<strong>da</strong>des. Deveríamos teologicamente promover <strong>uma</strong><br />
aproximação entre o símbolo <strong>da</strong> “árvore <strong>da</strong> sabedoria”, <strong>da</strong> árvore do “fruto proibido”, e o<br />
símbolo <strong>da</strong> cruz de Cristo, ao ver <strong>uma</strong> identificação simbólica <strong>da</strong> madeira <strong>da</strong> árvore com a