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aportes para uma hermenêutica da identidade e da práxis docente

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proporcionando um encontro cara a cara entre autor e leitor. Nessa sua recusa, Ricoeur<br />

evita <strong>uma</strong> ilusão romântica do vínculo imediato <strong>da</strong> congeniali<strong>da</strong>de entre a subjetivi<strong>da</strong>de <strong>da</strong><br />

obra, do autor e do leitor. Da mesma forma, ele rejeita o racionalismo <strong>da</strong> explicação que<br />

está imbuí<strong>da</strong> de <strong>uma</strong> ilusão positivista de <strong>uma</strong> objetivi<strong>da</strong>de textual cerra<strong>da</strong> em si mesma e<br />

independente <strong>da</strong> subjetivi<strong>da</strong>de do autor e do leitor.<br />

2.3. A <strong>hermenêutica</strong> e a interpretação de textos<br />

No entender de Ricoeur, é preciso “saber articular compreensão e explicação no<br />

plano que denomina de ‘sentido’ <strong>da</strong> obra” 151 . Ele afirma:<br />

Entendo por compreensão a capaci<strong>da</strong>de de continuar no mesmo o<br />

trabalho de estruturação do texto e por explicação a operação de segundo<br />

grau, incorpora<strong>da</strong> nesta compreensão e que consiste em atualizar os<br />

códigos subjacentes no trabalho e estruturação que o leitor acompanha. 152<br />

Antes, contudo, de se aprofun<strong>da</strong>r o entendimento destes dois conceitos é<br />

fun<strong>da</strong>mental explicitar o significado de texto. Ricoeur denomina de texto a todo discurso<br />

fixado pelas escrituras 153 e que a escritura é um discurso que se poderia poder dizer. Ele<br />

argumenta que o texto não é meramente a transcrição <strong>da</strong>s palavras que se poderia ter dito e<br />

nem se limita a reproduzir fielmente as palavras proferi<strong>da</strong>s, mas inscrever na letra o que o<br />

discurso, a fala queria realmente dizer. O texto não é, portanto, palavras soltas ao vento,<br />

mas texto refletido, grávido de sentido e pleno de significado.<br />

Ricoeur afirma que “o escrito conserva o discurso e o converte em arquivo<br />

disponível <strong>para</strong> a memória individual e coletiva” 154 . Ao relacionar essa reflexão com a<br />

<strong>hermenêutica</strong> <strong>da</strong> <strong>práxis</strong> educativa e <strong>da</strong> identi<strong>da</strong>de <strong>docente</strong>, devemos destacar a importância<br />

<strong>da</strong> elaboração do texto por parte do professor que reflete e procura autocompreender-se. O<br />

relato, entretanto, transforma-se realmente em texto quando o autor-professor não oculta<br />

nem a si próprio nem ao outro o processo de reflexão e vivência pelo qual passa, nem<br />

permite que a sombra, na perspectiva junguiana, encubra a realização <strong>da</strong> individuação. A<br />

constituição <strong>da</strong> reflexão em texto permite a retoma<strong>da</strong> posterior <strong>da</strong> reflexão pelo próprio<br />

sujeito e a apropriação por outras pessoas.<br />

151 Idem.<br />

152 Paul RICOEUR, Do texto à ação, p. 44.<br />

153 Paul RICOEUR, Del texto a la acción, p. 127.<br />

154 Id., ibid., p. 129.

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