aportes para uma hermenêutica da identidade e da práxis docente
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A outra problemática na compreensão apresenta<strong>da</strong> por Monini é o próprio foco <strong>da</strong><br />
busca <strong>da</strong> gênese. Como se obtêm a certeza de se ter alcançado a gênese? A gênese pode ser<br />
<strong>uma</strong> construção a priori, em que a descoberta já está pré-formula<strong>da</strong> e a busca na<strong>da</strong> mais é<br />
que a confirmação do pensamento pessoal inicial. O processo de interpretação já inicia<br />
viciado e visa à confirmação <strong>da</strong>s idéias já concebi<strong>da</strong>s.<br />
Num importante contraponto a esses posicionamentos, José Echeveria afirma:<br />
O mito deve expressar de forma sucessiva e anedótica o que é<br />
supratemporal e permanente, o que jamais deixa de ocorrer e que, como<br />
<strong>para</strong>digma, vale <strong>para</strong> todos os tempos. Mediante o mito, é fixa<strong>da</strong> a<br />
essência de <strong>uma</strong> situação cósmica ou de <strong>uma</strong> estrutura do real. Mas como<br />
a forma de fixá-lo é um relato, é preciso encontrar <strong>uma</strong> maneira de<br />
indicar ao ouvinte ou leitor mais lúcido que o tempo em que se<br />
desenvolveu os fatos é um “falso tempo”, é necessário saber incitá-lo a<br />
buscar, <strong>para</strong> além desse tempo em que o relatado parece transcorrer, o<br />
arquetípico, o sempre presente, o que não transcorre. 525<br />
O caráter “supratemporal” faz com que o mito se distinga de um relato histórico, de<br />
<strong>uma</strong> narrativa de acontecimentos e <strong>da</strong> descrição de <strong>uma</strong> situação. Permite, inclusive, a<br />
partir do seu caráter narrativo, desenvolver processos de identificação em diversos<br />
momentos históricos, de ressignificação e ressimbolização e de reconfiguração dos seus<br />
elementos míticos.<br />
Percy Cohen, em seu livro Theory of Myth, define o mito como <strong>uma</strong><br />
narrativa de acontecimentos; a narrativa em <strong>uma</strong> quali<strong>da</strong>de sagra<strong>da</strong>; (...) a<br />
comunicação sagra<strong>da</strong> se dá de forma simbólica; afinal, alguns dos<br />
eventos e objetos que ocorrem e estão presentes no mito não ocorrem<br />
nem estão presentes em qualquer mundo; a não ser o dos próprios mitos;<br />
e a narrativa refere-se de forma dramática às suas origens e<br />
transformações. 526<br />
Cohen, com a sua definição, muito mais que classificar o mito como um gênero<br />
literário próprio, aponta <strong>para</strong> a especifici<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s características do mito. O mundo e a<br />
reali<strong>da</strong>de do mito são elementos exclusivos e próprios, não há elementos com<strong>para</strong>tivos. O<br />
caráter <strong>da</strong> sacrali<strong>da</strong>de do mito aponta <strong>para</strong> a dimensão <strong>da</strong> origem do ser h<strong>uma</strong>no e <strong>para</strong> a<br />
sua relação com a transcendência.<br />
Ian Watt, analisando o pensamento de Cohen e contrapondo-se a ele, constata que<br />
os mitos modernos não tratam literalmente de “origens ou transformações” 527 . Eles<br />
525 Apud J. Ferrater MORA, Mito, p. 1979.<br />
526 Apud Ian WATT, Mitos do individualismo moderno, p. 232.<br />
527 Ian WATT, Mitos do individualismo moderno, p. 234.