aportes para uma hermenêutica da identidade e da práxis docente
aportes para uma hermenêutica da identidade e da práxis docente
aportes para uma hermenêutica da identidade e da práxis docente
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
48<br />
sua profissão. Essas mu<strong>da</strong>nças desencadeiam, além do sentimento de insegurança, também<br />
um esquema de resistência reflexiva.<br />
Paulo Freire, no conjunto de suas obras, acentua a importância <strong>da</strong> proposta,<br />
alicerça<strong>da</strong> na dialética <strong>da</strong> ação-reflexão-ação, do potencial de reflexivi<strong>da</strong>de do professor,<br />
assim como aponta <strong>para</strong> a “relação sujeito-objeto-sujeito” 54 . Ele combatia a formação<br />
ingênua do professor e, de igual modo, a concepção ingênua 55 <strong>da</strong> atuação do professor.<br />
Freire escreve:<br />
No contexto concreto somos sujeitos e objetos em relação dialética com o<br />
objeto; no contexto teórico assumimos o papel de sujeitos cognoscentes<br />
<strong>da</strong> relação sujeito-objeto que se dá no contexto concreto <strong>para</strong>, voltando a<br />
este, melhor atuar como sujeitos em relação ao objeto.<br />
Esses momentos constituem a uni<strong>da</strong>de (...) <strong>da</strong> prática e <strong>da</strong> teoria; <strong>da</strong> ação<br />
e <strong>da</strong> reflexão. (...) A reflexão só é legítima quando nos remete sempre<br />
(...) ao concreto, cujos fatos busca esclarecer, tornando assim possível<br />
nossa ação mais eficiente sobre eles. Iluminando <strong>uma</strong> ação exerci<strong>da</strong> ou<br />
exercendo-se, a reflexão ver<strong>da</strong>deira clarifica, ao mesmo tempo, a futura<br />
ação na qual se testa e que, por sua vez, se deve <strong>da</strong>r a <strong>uma</strong> nova<br />
reflexão. 56<br />
Há <strong>uma</strong> inter-relação e <strong>uma</strong> intercomunicação cognoscente entre o sujeito e o<br />
objeto e os sujeitos entre si. O educador, na perspectiva de Paulo Freire, não “dicotomiza o<br />
seu quefazer em dois momentos distintos: um em que conhece e outro em que fala sobre o<br />
seu conhecimento. O seu quefazer é permanente ato cognoscitivo” 57 . Os dois momentos, o<br />
<strong>da</strong> pesquisa e o <strong>da</strong> ação educativa, presentes na formação básica e na prática educativa,<br />
devem formar <strong>uma</strong> uni<strong>da</strong>de dialética. Ou seja, um está em função do outro. O educador,<br />
como sujeito cognoscente, ao se pre<strong>para</strong>r <strong>para</strong> a sua prática educativa, está só<br />
aparentemente sozinho. Ele desenvolve um diálogo invisível com as pessoas que o<br />
antecederam no mesmo ato cognoscente, um diálogo consigo mesmo ao repensar o<br />
pensado e ao reaprender o aprendido e visualiza mentalmente um diálogo com os sujeitos-<br />
educandos que terá diante de si. 58<br />
A perspectiva de Paulo Freire é o de um pensar constante e dinâmico. A formação<br />
do educador não termina com a conclusão do curso de formação. O educador precisa<br />
assumir <strong>uma</strong> atitude de formação permanente. A capaci<strong>da</strong>de reflexiva <strong>da</strong> pessoa precisa<br />
estar em ativi<strong>da</strong>de permanente. Não se trata, contudo, de um pensar rotineiro, de um pensar<br />
54 Paulo FREIRE, Extensão ou comunicação?, p. 68; ID., Pe<strong>da</strong>gogia <strong>da</strong> esperança, p. 120.<br />
55 Paulo FREIRE, Pe<strong>da</strong>gogia do oprimido, p. 63-89.<br />
56 Paulo FREIRE, Ação cultural <strong>para</strong> a liber<strong>da</strong>de e outros escritos, p. 135.<br />
57 Paulo FREIRE, Extensão ou comunicação?, p. 79.<br />
58 Manfredo C. WACHS, O ministério <strong>da</strong> confirmação: contribuições <strong>para</strong> um método, p. 92-93.