aportes para uma hermenêutica da identidade e da práxis docente
aportes para uma hermenêutica da identidade e da práxis docente
aportes para uma hermenêutica da identidade e da práxis docente
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
61<br />
CAPÍTULO II<br />
A INTERPRETAÇÃO DA FORMAÇÃO DOCENTE<br />
NUMA ABORDAGEM HERMENÊUTICA<br />
Com o teólogo Martinho Lutero tem início a <strong>hermenêutica</strong> como arte <strong>da</strong><br />
interpretação 106 , porque ele salienta a autori<strong>da</strong>de máxima <strong>da</strong> “sola scriptura” e dá<br />
autonomia de interpretação a to<strong>da</strong>s as pessoas crentes. Lutero questiona a autori<strong>da</strong>de <strong>da</strong><br />
“tradição” <strong>da</strong> Igreja Católica Romana. Ele firma <strong>uma</strong> inversão de posição interpretativa e<br />
estabelece o início <strong>da</strong> autonomia de pensamento: “não são os outros que interpretam por<br />
mim, sou eu mesmo que tenho condições de fazer a interpretação”. Entretanto, devemos<br />
assegurar o princípio de que a outra pessoa permaneça sendo parceira no processo de<br />
interpretação. Esta não é <strong>uma</strong> ação isola<strong>da</strong> e individualista, mas possui <strong>uma</strong> dimensão<br />
comunitária. Devemos, ain<strong>da</strong>, salientar que a questão <strong>da</strong> fé é fun<strong>da</strong>mental em Lutero, pois<br />
a interpretação não é mera questão intelectual, e sim a compreensão <strong>da</strong> ação de Deus em<br />
relação e em favor <strong>da</strong>s pessoas.<br />
O termo “<strong>hermenêutica</strong>” foi adotado, no século XIX, pelo teólogo Friedrich<br />
Schleiermacher com um intuito puramente filosófico. Posteriormente (em 1900), Dilthey<br />
escreve um ensaio, considerado clássico, em que faz <strong>uma</strong> retrospectiva histórica <strong>da</strong><br />
definição de <strong>hermenêutica</strong> e conclui:<br />
A <strong>hermenêutica</strong> deve fun<strong>da</strong>mentar teoreticamente a vali<strong>da</strong>de universal <strong>da</strong><br />
interpretação (...) em contraposição à continua invasão <strong>da</strong> arbitrarie<strong>da</strong>de<br />
romântica e <strong>da</strong> subjetivi<strong>da</strong>de cética no âmbito <strong>da</strong> história. (...) esta teoria<br />
<strong>da</strong> interpretação se torna um importante elo de ligação entre a filosofia e<br />
as ciências históricas, ela se torna um elemento principal <strong>para</strong> a<br />
fun<strong>da</strong>mentação <strong>da</strong>s ciências h<strong>uma</strong>nas. 107<br />
A universali<strong>da</strong>de defendi<strong>da</strong> por Dilthey pode se configurar como bastante<br />
complica<strong>da</strong> e questionável, ao se considerar a complexi<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s relações e <strong>da</strong>s conexões<br />
interpretativas. Assim como nas ciências h<strong>uma</strong>nas não se pode mais falar – no singular –<br />
de <strong>uma</strong> pe<strong>da</strong>gogia, de <strong>uma</strong> teologia, mas somente – no plural – de teologias e pe<strong>da</strong>gogias,<br />
também na <strong>hermenêutica</strong> é necessário utilizar o plural e falar em <strong>hermenêutica</strong>s. O caráter<br />
universal e universalizante, defendido por Dischinger e Grondin 108 , mostra-se complicado<br />
106 Jean GRONDIN, Introdução à <strong>hermenêutica</strong> filosófica, p. 27.<br />
107 Wilhelm DILTHEY, O surgimento <strong>da</strong> <strong>hermenêutica</strong> (1900), p. 32.<br />
108 Jean GRONDIN, Introdução à <strong>hermenêutica</strong> filosófica, p. 23-45.