aportes para uma hermenêutica da identidade e da práxis docente
aportes para uma hermenêutica da identidade e da práxis docente
aportes para uma hermenêutica da identidade e da práxis docente
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
179<br />
Ricoeur não é dualista, mas de <strong>uma</strong> relação interdependente, pois não há absolvição de um<br />
mal não cometido nem haveria a necessi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> absolvição se o mal não existisse. Da<br />
mesma forma, se não existisse a h<strong>uma</strong>ni<strong>da</strong>de não haveria o mal nem a culpabili<strong>da</strong>de do ser<br />
h<strong>uma</strong>no.<br />
Caminhar em direção à absolvição significa, n<strong>uma</strong> dimensão teo-pe<strong>da</strong>gógica,<br />
revelar <strong>uma</strong> reali<strong>da</strong>de “ca<strong>da</strong> vez mais intolerável e o anúncio de um futuro a ser criado” 405 ,<br />
apontar <strong>para</strong> <strong>uma</strong> situação educativa intolerável, seja na dimensão <strong>da</strong>s <strong>práxis</strong> pessoais,<br />
coletivas ou institucionais. Mas, ao mesmo tempo, tira de cima <strong>da</strong>s costas do educador a<br />
responsabili<strong>da</strong>de pela reali<strong>da</strong>de existente. O pensamento de Ricoeur não isenta o ser<br />
h<strong>uma</strong>no, mas tampouco o sobrecarrega. Para Ricoeur, o mito do mal é relevante pois<br />
descobre, desvela, <strong>uma</strong> dimensão <strong>da</strong> experiência h<strong>uma</strong>na que sem ele teria permanecido<br />
sem expressão e, com isso, teria sido aborta<strong>da</strong> como experiência vivi<strong>da</strong>. 406 Ou seja, o mito<br />
revela a nossa reali<strong>da</strong>de h<strong>uma</strong>na. Para Ricoeur,<br />
não é o mito, como tal que é palavra de Deus, pois seu sentido primeiro<br />
podia ser inteiramente diferente. É seu poder relevante concernindo à<br />
condição h<strong>uma</strong>na em seu conjunto que constitui seu sentido revelado 407 .<br />
Alg<strong>uma</strong> coisa é descoberta, revela<strong>da</strong>, que sem o mito permaneceria<br />
coberta, oculta. 408<br />
Ou seja, a sua dimensão simbólica, que sempre dá a pensar e vai além <strong>da</strong><br />
interpretação reducionista, quer nos distanciar do historicismo ingênuo do<br />
fun<strong>da</strong>mentalismo com suas interpretações literais e do moralismo que acentua a culpa e<br />
reforça o cativeiro. A dimensão simbólica do mal nos revela que além <strong>da</strong> culpa, há a<br />
absolvição, há a graça de Deus, pois “onde o pecado abun<strong>da</strong>, a graça superabun<strong>da</strong>” 409 . Essa<br />
revelação aponta <strong>para</strong> a possibili<strong>da</strong>de do reinício, de <strong>uma</strong> ressignificação de nossos<br />
fracassos e de nossos erros, de <strong>uma</strong> ressimbolização de nossas armadilhas culpalizadoras;<br />
<strong>para</strong> que possa ser ressimbolizado aquilo que nos impede de refletir, aquilo que provoca<br />
desmotivação em nós, aquilo que nos inibe de cometer erros, aquilo que nos impede de<br />
pensar, ouvir e falar.<br />
Paul Ricoeur afirma que o mito descobre, desvela, revela a situação de to<strong>da</strong> pessoa:<br />
405 Paulo FREIRE, Pe<strong>da</strong>gogia <strong>da</strong> esperança, p. 91.<br />
406 Paul RICOEUR, O conflito <strong>da</strong>s interpretações, p. 240.<br />
407 O grifo é do próprio autor.<br />
408 Paul RICOEUR, O conflito <strong>da</strong>s interpretações, p. 239.<br />
409 Romanos 5,20 (Bíblia Sagra<strong>da</strong>).