aportes para uma hermenêutica da identidade e da práxis docente
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216<br />
Cybelle Almei<strong>da</strong> 477 , em seu estudo com<strong>para</strong>tivo, diz que Eva e Pandora são<br />
condena<strong>da</strong>s, pois são movi<strong>da</strong>s pela curiosi<strong>da</strong>de de conhecer, pela vontade de saber. O<br />
elemento positivo <strong>da</strong> curiosi<strong>da</strong>de é classificado como algo maligno, negativo e causador<br />
dos males <strong>da</strong> h<strong>uma</strong>ni<strong>da</strong>de. A curiosi<strong>da</strong>de não é vista como elemento essencial <strong>da</strong><br />
aprendizagem e nem como fator essencial <strong>para</strong> a busca de novos caminhos, de novas<br />
descobertas, de novos saberes. A autora Cybelle Almei<strong>da</strong> coloca a curiosi<strong>da</strong>de ao lado do<br />
conceito de desejo elaborado por Freud, classificando-a como um elemento <strong>da</strong> libido. Esta<br />
perspectiva apresenta <strong>uma</strong> compreensão reducionista <strong>da</strong> curiosi<strong>da</strong>de. A curiosi<strong>da</strong>de,<br />
entretanto, deve ser vista mais como um processo de ruptura com a inércia, com o<br />
sedimentado, com o consoli<strong>da</strong>do. A curiosi<strong>da</strong>de é, portanto, um elemento educativo que<br />
auxilia a transcender aquilo que é simplesmente <strong>da</strong>do e que se torna rotineiro. Diante disso,<br />
podemos compreender a curiosi<strong>da</strong>de como um dos elementos imprescindíveis do processo<br />
de aprendizagem e autoconhecimento.<br />
Por sua vez, a curiosi<strong>da</strong>de é um dos caminhos educativos salutares e que levam à<br />
autonomia de pensamento e à busca por alternativa educacional, pois se busca novi<strong>da</strong>des e<br />
construção própria do pensamento. Sendo assim, ela é <strong>uma</strong> integrante valiosa <strong>da</strong><br />
criativi<strong>da</strong>de e <strong>da</strong> inovação. Portanto, no processo educativo do educando, em geral, e do<br />
educador, em especial, deve-se incentivar a presença de Pandora que se manifesta<br />
sorrateiramente e que explora, através <strong>da</strong> curiosi<strong>da</strong>de, os espaços <strong>da</strong>s novas descobertas.<br />
A segun<strong>da</strong> versão do mito de Pandora, descrita por Bulfinch, revela que Pandora<br />
fora envia<strong>da</strong> por Júpiter à Terra com a intenção de agra<strong>da</strong>r os homens. O rei dos deuses<br />
“entregou-lhe, como presente de casamento, <strong>uma</strong> caixa, em que ca<strong>da</strong> deus colocara um<br />
bem. Pandora abriu a caixa, inadverti<strong>da</strong>mente, e todos os bens esca<strong>para</strong>m, exceto a<br />
esperança” 478 .<br />
A nossa compreensão <strong>da</strong> ação simbólica do abrir e fechar o baú relaciona-se mais<br />
com a segun<strong>da</strong> versão, pois vislumbramos os processos do autoconhecimento. Não é<br />
possível qualificar a vi<strong>da</strong> sem realizar o processo de autoconhecimento. Além disso,<br />
queremos considerar o fato de que em qualquer baú, em qualquer “caixa de Pandora”,<br />
sempre haverá a presença de objetos malignos e benignos, sempre haverá as expressões<br />
diabólicas e as simbólicas, as desagregadoras e agregadoras. Teologicamente vem-nos à<br />
mente o princípio do pensamento luterano do “simultaneamente justo e pecador”. Ou seja,<br />
477<br />
Cybelle Crosetti ALMEIDA, A caixa de Pandora: um olhar sobre os mitos e os medos na<br />
representação <strong>da</strong> mulher, p. 74.<br />
478<br />
Thomas BULFINCH, O livro de ouro <strong>da</strong> mitologia: história de deuses e heróis, p. 22.