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aportes para uma hermenêutica da identidade e da práxis docente

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180<br />

Eu não começo o mal; eu o continuo; estou implicado no mal; o mal tem<br />

um passado; ele é seu passado; ele é sua própria tradição. 410<br />

E, na sua conclusão, ele afirma que o mistério último do pecado é:<br />

Começamos o mal; por nós o mal entra no mundo, mas não começamos o<br />

mal senão a partir de um já aí. 411<br />

Transpondo essa dimensão simbólica <strong>para</strong> a reali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> <strong>práxis</strong> educativa do<br />

<strong>docente</strong>, podemos dizer que a dificul<strong>da</strong>de, o fracasso do ensino e <strong>da</strong> aprendizagem, já está<br />

aí; ele não começa conosco; ele continua conosco; ele existe independente <strong>da</strong> nossa<br />

vontade e do nosso esforço <strong>para</strong> reprimi-lo. Isso nos isenta <strong>da</strong> culpa, mas não <strong>da</strong><br />

responsabili<strong>da</strong>de. Isto nos redime e nos compromete. Isto nos liberta e nos encoraja a<br />

buscar novos caminhos. Ao mesmo tempo, nos liberta do sentimento simbólico de que<br />

“somos os salvadores do mundo”, de que a “educação é o caminho <strong>para</strong> a redenção <strong>da</strong><br />

h<strong>uma</strong>ni<strong>da</strong>de”, de que o “futuro dos jovens passa pela educação”. A simbólica do mal nos<br />

revela o limite do próprio <strong>docente</strong>, assim como do próprio ato educativo.<br />

Ao tratar <strong>da</strong> simbólica do mal, Ricoeur fala <strong>da</strong> existência do mal apesar do ser<br />

h<strong>uma</strong>no não o ter introduzido no mundo; o mal já está no mundo. Paul Tillich acentua a<br />

coragem de aceitar a aceitação e menciona a compreensão teológica luterana <strong>da</strong><br />

“justificação por graça”. Ou seja, o processo de auto-afirmação implica na auto-aceitação<br />

que é proporciona<strong>da</strong> pela ação primeira do próprio Deus. Isto significa que a própria<br />

pessoa deveria poder desencadear um processo de aceitar a aceitação já realiza<strong>da</strong> por Deus,<br />

apesar de to<strong>da</strong> e qualquer situação de não-aceitação. A dimensão de aceitar a aceitação tem<br />

um caráter transcendental, pois o ser h<strong>uma</strong>no precisa reconhecer a sua não-potenciali<strong>da</strong>de<br />

primeira. Tillich afirma que “é preciso <strong>uma</strong> coragem autotranscendente <strong>para</strong> aceitar esta<br />

aceitação, é preciso a coragem <strong>da</strong> confiança” 412 . É necessário, portanto, reconhecer que a<br />

coragem de “aceitar a aceitação”, não pode e nem deve estar reduzi<strong>da</strong> ao desejo pessoal. A<br />

potenciali<strong>da</strong>de primeira é concessão <strong>da</strong> graça de Deus, é a própria aceitação efetua<strong>da</strong><br />

primeiramente por Deus. Com isso, podemos dizer que aceitar a aceitação é em primeiro<br />

lugar um ato de gratidão pela aceitação concedi<strong>da</strong> e presentea<strong>da</strong> pelo próprio Deus.<br />

Mas é, ao mesmo tempo, o ato autotranscendente de aceitar a aceitação que dá ao<br />

ser h<strong>uma</strong>no a condição de transcender os seus próprios limites, a sua culpabili<strong>da</strong>de, os seus<br />

sentimentos inibidores de ressignificação, os elementos motivadores <strong>da</strong> resistência. É ele<br />

410 Paul RICOEUR, O conflito <strong>da</strong>s interpretações, p. 239.<br />

411 Id., ibid., p. 241. O grifo <strong>da</strong> palavra “começamos” é do próprio autor.<br />

412 Paul TILLICH, A coragem de ser, p. 129.

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