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aportes para uma hermenêutica da identidade e da práxis docente

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instável e pode até tornar-se depressiva, chegando ao ponto de menosprezar a si próprio.<br />

Este grupo de pessoas interpreta a mu<strong>da</strong>nça como manifestação de fraqueza e falta de<br />

consistência pe<strong>da</strong>gógica; por isso, querendo mostrar-se competentes, resistem às<br />

mu<strong>da</strong>nças. Por detrás dessa atitude está o medo de enfrentar o novo, de abandonar certezas<br />

que anteriormente eram as referências de sustentação <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>.<br />

O teólogo Paul Tillich afirma que há <strong>uma</strong> interdependência entre medo e ansie<strong>da</strong>de.<br />

Ambos têm a mesma raiz ontológica, mas não são o mesmo na reali<strong>da</strong>de, pois o “medo tem<br />

objeto definido, que pode ser enfrentado, analisado, atacado, tolerado” e a “ansie<strong>da</strong>de não<br />

é um objeto”, seu “objeto é a negação de todo objeto”, é o “desconhecido que, por<br />

natureza, não pode ser conhecido, porque é o não-ser” 384 . O medo se pode nominar: “eu<br />

tenho medo do escuro, de falar com o diretor, de enfrentar <strong>uma</strong> prova, de falar com o pai<br />

agressivo”, medo disso ou <strong>da</strong>quilo. Ou medo de não ser aceito por <strong>uma</strong> pessoa, medo <strong>da</strong><br />

rejeição por parte de um grupo e mesmo de morrer de <strong>uma</strong> determina<strong>da</strong> forma. Por outro<br />

lado, conforme Tillich, a ansie<strong>da</strong>de é “sempre a ansie<strong>da</strong>de do derradeiro não-ser. (...) É o<br />

penoso sentimento de não ser capaz de resolver a ameaça de <strong>uma</strong> situação especial” 385 .<br />

A ansie<strong>da</strong>de pode ser sufocante e bloquear a reflexivi<strong>da</strong>de, impedindo o<br />

prosseguimento <strong>da</strong> reflexão e <strong>da</strong> ação. Ela pode, dessa maneira, tornar-se patológica se o<br />

não-ser predominar sobre o ser-em-si. Tillich afirma que aquele que “não obtém êxito em<br />

tomar com coragem sua ansie<strong>da</strong>de sobre si próprio, pode obter êxito em evitar a situação<br />

extrema do desespero escapando <strong>para</strong> a neurose (...) que é o meio de evitar o não-ser<br />

evitando o ser” 386 . Por outro lado, a ansie<strong>da</strong>de existencial pode se constituir como<br />

elemento desencadeador <strong>da</strong> reconfiguração <strong>da</strong> identi<strong>da</strong>de, pois ela li<strong>da</strong> com a identi<strong>da</strong>de e<br />

com as “questões últimas”. A “coragem de ser a despeito de” tudo aquilo que tende a<br />

impedir o eu de se afirmar, e que desencadeia a auto-afirmação, é a chave <strong>para</strong> a<br />

interpretação do ser-em-si. 387 Ou seja, na potencialização <strong>da</strong> coragem de ser é que se<br />

vislumbra as possibili<strong>da</strong>des de enfrentar as situações de não-ser e <strong>da</strong> negação do ser.<br />

O teólogo Paul Tillich destaca três tipos de ansie<strong>da</strong>de 388 : a) o não-ser ameaça a<br />

auto-afirmação “ôntica” do ser h<strong>uma</strong>no, de modo relativo, em termos de destino, de modo<br />

absoluto, em termos de morte; b) ele ameaça a auto-afirmação espiritual do ser h<strong>uma</strong>no, de<br />

modo relativo, em termos <strong>da</strong> vacui<strong>da</strong>de, de modo absoluto, em termos de insignificação; e<br />

384<br />

Paul TILLICH, A coragem de ser, p. 28s.<br />

385<br />

Id., ibid., p. 30.<br />

386<br />

Id., ibid., p. 51.<br />

387<br />

Id., ibid., p. 26.<br />

388<br />

Id., ibid., p. 32-40.

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