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aportes para uma hermenêutica da identidade e da práxis docente

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inclusive, <strong>uma</strong> metáfora carrega<strong>da</strong> de dureza na linguagem: “<strong>para</strong> além do deserto <strong>da</strong><br />

crítica”.<br />

O uso dessa metáfora dá o indicativo do <strong>para</strong>digma concepcional de símbolo: “o<br />

símbolo dá a pensar” 280 , <strong>para</strong> além de to<strong>da</strong> a crítica redutora. 281 A partir desta frase,<br />

bastante concisa, o autor desdobra e destaca duas questões: a primeira é que o símbolo dá.<br />

Não é a pessoa que põe o sentido, mas o próprio símbolo é que dá o sentido. Isto revela,<br />

por um lado, a autonomia do próprio símbolo e a sua dimensão aberta e, por outro lado, a<br />

necessi<strong>da</strong>de de <strong>uma</strong> atitude de abertura interpretativa <strong>da</strong> pessoa que se relaciona com o<br />

símbolo, e com o mito, pois é necessário deixar o símbolo falar. Quando o símbolo fica<br />

atrelado unicamente à simbólica <strong>da</strong> alma, <strong>da</strong> psique, por exemplo, pode ser tornar<br />

iconoclasta e o símbolo começa a ser destruído, pois deixa de tocar em vários registros:<br />

cósmico e existencial. 282 A segun<strong>da</strong> questão é que o símbolo dá a pensar. Ele não permite a<br />

passivi<strong>da</strong>de do ouvinte. O símbolo dá a pensar, pois “tudo já está dito em enigma e é<br />

preciso começar e recomeçar na dimensão do pensar” 283 .<br />

Todos os símbolos dão a pensar, mas os “símbolos do mal mostram de <strong>uma</strong><br />

maneira exemplar que há sempre mais nos mitos e nos símbolos do que to<strong>da</strong> nossa<br />

filosofia” 284 . Para Ricoeur os “símbolos do mal” não somente revelam um sentido cósmico<br />

e existencial, mas também promovem consolação, revelam a culpabili<strong>da</strong>de e a redenção, a<br />

finitude h<strong>uma</strong>na e a abrangência <strong>da</strong>s relações. Na compreensão <strong>da</strong> simbólica do mal,<br />

transparece a dimensão do “duplo sentido”. Apesar desse destaque, os demais símbolos e<br />

mitos dão a pensar.<br />

Uma outra dimensão subjacente à categoria pensante do símbolo está na categoria<br />

<strong>da</strong> temporali<strong>da</strong>de. Ricoeur afirma:<br />

Graças à estrutura de <strong>uma</strong> história que teve lugar “naquele tempo”, in illo<br />

tempore, nossa experiência recebe <strong>uma</strong> orientação temporal, dirigi<strong>da</strong> de<br />

um começo <strong>para</strong> um fim, <strong>da</strong> memória <strong>para</strong> a esperança 285 .<br />

O símbolo está situado num “tempo” não fechado, não localizado<br />

cronologicamente, pois é o seu sentido que lhe dá valor simbólico. Assim como é a própria<br />

280<br />

Paul RICOEUR, Conflito <strong>da</strong>s interpretações, p. 243. Em Da interpretação, p. 41, Ricoeur usa a<br />

expressão: “o símbolo faz pensar”.<br />

281<br />

Paul RICOEUR, Conflito <strong>da</strong>s interpretações, p. 240. Ricoeur aponta Freud, Marx, Nietzsche e<br />

Feuerbach como representantes <strong>da</strong> teoria <strong>da</strong> suspeita e os acusa de reducionistas.<br />

282<br />

Paul RICOEUR, Conflito <strong>da</strong>s interpretações, p. 260.<br />

283<br />

Idem.<br />

284<br />

Paul RICOEUR, Da interpretação, p. 421.<br />

285<br />

Paul RICOEUR, Conflito <strong>da</strong>s interpretações, p. 267.

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