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aportes para uma hermenêutica da identidade e da práxis docente

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influência, <strong>para</strong> ele, a fenomenologia husserliana está aprisiona<strong>da</strong> ao movimento <strong>da</strong><br />

“interrogação <strong>para</strong> trás” 141 .<br />

No seu livro Da interpretação, Ricoeur afirma que a “reflexão é a apropriação de<br />

nosso esforço <strong>para</strong> existir e de nosso desejo de ser, através <strong>da</strong>s obras que dão testemunho<br />

desse esforço e desse desejo” 142 . Na mesma obra, ele declara: “a reflexão não é intuição,<br />

ela possibilita-nos entrever o lugar <strong>da</strong> interpretação no conhecimento de si mesmo” 143 .<br />

É característica do pensamento de Paul Ricoeur <strong>uma</strong> atitude essencialmente<br />

“afirmativa” perante o “negativismo” de alguns filósofos existenciais ou existencialistas. 144<br />

Apoiado na fenomenologia e no existencialismo, Ricoeur opta pelo exercício <strong>da</strong> reflexão<br />

aplica<strong>da</strong> à objetivi<strong>da</strong>de do vivido, do pensado. Esforça-se, ao mesmo tempo, por edificar<br />

<strong>uma</strong> <strong>hermenêutica</strong> restauradora do sentido 145 , de índole transcendental, em que as<br />

categorias de apropriação do sentido, <strong>da</strong> autonomia do texto e <strong>da</strong> autocompreensão perante<br />

o texto são essenciais. O seu projeto tem <strong>uma</strong> preocupação epistemológica que traduz-se<br />

em unificar e não dissociar a compreensão e a “explicação”.<br />

Paul Ricoeur 146 vê a <strong>hermenêutica</strong> como a dupla tarefa de reconstituir a dinâmica<br />

interna do texto e restituir a capaci<strong>da</strong>de <strong>da</strong> obra de projetar-se ao exterior mediante a<br />

representação de um mundo habitável. A tarefa é, pois, buscar o texto mesmo. Falar em<br />

<strong>uma</strong> dinâmica interna do texto significa descobrir o sentido presente no próprio texto. É<br />

perceber que o próprio texto e o sentido presente nele transcendem a própria<br />

intencionali<strong>da</strong>de do autor e não dependem nem mesmo <strong>da</strong> intencionali<strong>da</strong>de do leitor. O<br />

texto com que o hermeneuta li<strong>da</strong> tem um sentido em si. O texto não depende <strong>da</strong><br />

subjetivi<strong>da</strong>de do autor e do leitor nem <strong>da</strong> relação subjetiva entre autor e leitor.<br />

A tarefa do hermeneuta não é de a fazer <strong>uma</strong> escavação arqueológica ou de buscar<br />

as profundezas psicológicas e simbólicas <strong>para</strong> descobrir a intencionali<strong>da</strong>de do autor nem a<br />

de desenvolver um processo psicologizante <strong>para</strong> analisar a intencionali<strong>da</strong>de e o desejo do<br />

leitor. A intenção do autor do texto não está <strong>da</strong><strong>da</strong> imediatamente, <strong>da</strong> mesma forma como é<br />

possível ouvir a fala do locutor que se expressa, no diálogo oral, de forma sincera e direta.<br />

Nem sempre a intencionali<strong>da</strong>de do autor permanece a mesma após concluí<strong>da</strong> a obra. O<br />

próprio olhar do autor, diante <strong>da</strong> sua obra, pode tornar-se diferente <strong>da</strong>quela que tinha antes<br />

141 Id., ibid., p. 29.<br />

142 Paul RICOEUR, Da interpretação, p. 48.<br />

143 Id., ibid., p. 46.<br />

144 J. Ferrater MORA, Paul Ricoeur, p. 2538.<br />

145 Artur MORÃO, Hermenêutica, col. 1108.<br />

146 Paul RICOEUR, Do texto à ação, p. 43.

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