aportes para uma hermenêutica da identidade e da práxis docente
aportes para uma hermenêutica da identidade e da práxis docente
aportes para uma hermenêutica da identidade e da práxis docente
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
264<br />
pessoa, na divulgação incisiva dos seus sucessos. A pessoa com essas características<br />
compreende que os seus fracassos ocorreram por causa <strong>da</strong>s falhas dos outros e não como<br />
decorrência <strong>da</strong> sua ação. Mas, ao mesmo tempo, essa pessoa não se abala com a<br />
dificul<strong>da</strong>de de aprendizagem de algum aluno ou de algum colega, a sua eloqüência abafa a<br />
fala de outras pessoas, demonstra prepotência, faz questão de projetar <strong>uma</strong> imagem de<br />
pessoa atualiza<strong>da</strong>, coloca-se em evidência <strong>para</strong> receber elogios, deleita-se nos elogios e<br />
cost<strong>uma</strong> acentuar somente as práticas que deram certo.<br />
Podemos perceber que a pessoa do professor Narciso tem aspectos que poderiam<br />
ser denominados de negativos e positivos. Pois to<strong>da</strong> e qualquer pessoa, to<strong>da</strong> e qualquer<br />
pessoa <strong>docente</strong>, necessita ter <strong>uma</strong> boa auto-estima, precisa valorizar o seu trabalho, ficar<br />
feliz com elogios e, às vezes, também se auto-elogiar e divulgar o seu trabalho, a sua boa e<br />
bela imagem. Sem auto-estima e autoconfiança, a atuação <strong>docente</strong> estaria fa<strong>da</strong><strong>da</strong> ao<br />
fracasso. Sem a presença do narcisismo, o pesquisador em educação, por exemplo, não<br />
conseguiria desenvolver <strong>uma</strong> pesquisa autóctone, pois iria somente reproduzir o<br />
pensamento <strong>da</strong>s outras pessoas.<br />
Carlos Byington aponta que há professores de tipologia narcísica tão dominante<br />
“que projetam a polari<strong>da</strong>de ecoísta nos seus alunos, encurralando-os nela e forçando-os a<br />
desempenhá-la” 583 . A atuação narcísica sufoca o aluno e ele não consegue desenvolver um<br />
pensamento próprio. Nos trabalhos solicitados pelo <strong>docente</strong>, o estu<strong>da</strong>nte fica condicionado<br />
a ecoar a fala e o pensamento do professor. O estu<strong>da</strong>nte é classificado pelo professor<br />
Narciso como “bom aluno” quando sabe reproduzir com exatidão o pensamento do próprio<br />
professor, quando cita corretamente frases de autores. Por outro lado, o aluno “malandro”,<br />
que “entra no jogo do professor”, prefere o professor Narciso, pois sabe como agradá-lo e<br />
o que escrever nos seus trabalhos e nas suas provas. O aluno ecoísta se dá bem com o<br />
professor Narciso. Vice-versa também é um fato.<br />
Um comportamento narcísico que se verifica no ensino superior é a imagem<br />
simbólica do “professor Ludovico” 584 , aquele que sabe tudo, que tem resposta <strong>para</strong> to<strong>da</strong>s as<br />
questões, e que, muitas vezes, foi cria<strong>da</strong> pela titulação e pelo acúmulo de produção<br />
científica. No ambiente do ensino superior, tem-se contato com pessoas que fazem questão<br />
de falar <strong>da</strong> sua titulação, do seu vasto currículo. E só com isto já “pedrificam” o estu<strong>da</strong>nte<br />
e fazem seu corpo definhar. Quando o título “sobe à cabeça”, vemos <strong>docente</strong>s-doutores e<br />
583 Carlos BYINGTON, Pe<strong>da</strong>gogia simbólica, p. 119.<br />
584 O professor Ludovico é um personagem <strong>da</strong>s histórias de Walt Disney que tinha as respostas <strong>para</strong><br />
tudo.