aportes para uma hermenêutica da identidade e da práxis docente
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pessoais e profissionais, do reconhecimento <strong>da</strong>s capaci<strong>da</strong>des pessoais, <strong>da</strong> capaci<strong>da</strong>de de<br />
reconciliação e de saber li<strong>da</strong>r com as frustrações e o sentimento de impotência.<br />
Nas investigações realiza<strong>da</strong>s em ativi<strong>da</strong>des letivas em sala de aula ouvi pessoas<br />
declararem que atuam como <strong>docente</strong>s, mas que não se identificam com a docência. Elas<br />
exercem <strong>uma</strong> ativi<strong>da</strong>de educativa e foi possível constatar que havia aprendizagem por parte<br />
dos estu<strong>da</strong>ntes, mas a ativi<strong>da</strong>de profissional era um peso, um sofrimento, um emprego,<br />
<strong>uma</strong> função burocrática. Aqui não se trata de avaliar algo como correto ou não, de se<strong>para</strong>r<br />
o “joio do trigo”, mas de constatar o processo de ressignificação e ressimbolização de <strong>uma</strong><br />
identi<strong>da</strong>de. Não significa que não havia <strong>uma</strong> identi<strong>da</strong>de, mas que ela não estava centra<strong>da</strong><br />
na docência.<br />
Alg<strong>uma</strong>s pessoas declararam que a ressignificação foi proporciona<strong>da</strong> pela ação<br />
cativante dos próprios estu<strong>da</strong>ntes, pela alegria de aprender demonstrado pelas crianças,<br />
pela curiosi<strong>da</strong>de de descobrir coisas novas por parte de estu<strong>da</strong>ntes, pelo entusiasmo<br />
decorrente de êxitos alcançados. Outras pessoas afirmaram que a ressignificação foi<br />
desencadea<strong>da</strong> pela “paixão contagiante” de familiares que também são educadores ou de<br />
colegas educadores ou pela comuni<strong>da</strong>de escolar que sonha, planeja, sofre, chora e<br />
recomeça constantemente, ou ain<strong>da</strong> pela comuni<strong>da</strong>de escolar que sonha, conjuntamente,<br />
um projeto pe<strong>da</strong>gógico. Em outros casos, a ressignificação ocorre na descoberta de não<br />
estar só, de haver “corrimões” e “bengalas” de apoio e de companheirismo, em que é<br />
possível apoiar-se e se socorrer nos momentos de fragili<strong>da</strong>de e insegurança, assim como se<br />
pode ser <strong>uma</strong> “mão estendi<strong>da</strong>” onde as outras pessoas podem repousar e se sentir<br />
protegi<strong>da</strong>s.<br />
Por outro lado, nesta investigação, constatei a presença de pessoas que ocupam o<br />
cargo de professores, mas não se identificam como <strong>docente</strong>s. Essas pessoas ocupam <strong>uma</strong><br />
cadeira de professor, mas não o espaço educativo; transmitem informações teóricas,<br />
atualiza<strong>da</strong>s ou não, mas têm dificul<strong>da</strong>des de construir conhecimento e desencadear<br />
processos de aprendizagem significativos. Elas dificilmente se apresentam como<br />
professores. Elas fazem referência à profissão com a qual elas se identificam e afirmam<br />
simplesmente que estão <strong>da</strong>ndo aula. Não podemos dizer, contudo, que elas não tenham<br />
<strong>uma</strong> identi<strong>da</strong>de <strong>docente</strong>, pois compreendemos que não há pessoa que não possua <strong>uma</strong><br />
identi<strong>da</strong>de. Nesse caso, podemos dizer que há <strong>uma</strong> identi<strong>da</strong>de não-identificável com o ser<br />
<strong>docente</strong>. É <strong>uma</strong> dimensão de estar e de não-ser. Essas pessoas, mesmo não querendo,<br />
também influenciam outras pessoas e se tornam “objetos referenciais” <strong>para</strong> a construção de