aportes para uma hermenêutica da identidade e da práxis docente
aportes para uma hermenêutica da identidade e da práxis docente
aportes para uma hermenêutica da identidade e da práxis docente
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
207<br />
experiência de relações interpessoais e <strong>uma</strong> capaci<strong>da</strong>de de coordenação <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des<br />
grupais. Esta potenciali<strong>da</strong>de não se dá somente com a pesquisa e a reflexão, mas,<br />
especialmente, com o tempo de profissionali<strong>da</strong>de.<br />
Por outro lado, as projeções podem se transformar em atitudes desagregadoras,<br />
provocando divisões nas relações significativas <strong>da</strong>s pessoas e interpondo-se entre o sujeito<br />
e o mundo exterior. As projeções podem criar um mundo de fantasia e as narrações <strong>da</strong><br />
trajetória profissional e <strong>da</strong> identi<strong>da</strong>de <strong>docente</strong> ser desacredita<strong>da</strong>s. O processo de<br />
significação e ressignificação <strong>da</strong> identi<strong>da</strong>de <strong>docente</strong> torna-se bastante difícil quando ocorre<br />
a projeção, pois se cria <strong>uma</strong> “cortina nebulosa” que desvia o olhar do foco central. As<br />
pessoas que expressam as suas projeções podem facilmente isolar-se e os símbolos,<br />
expressos nas projeções, ao invés de agregar, de unir as pessoas, podem provocar desunião.<br />
Seguindo a compreensão que o teólogo Leonardo Boff 459 tem dos símbolos, poder-se-ia<br />
afirmar que as projeções com facili<strong>da</strong>de podem se transformar em atitudes diabólicas e as<br />
narrações sobre a identi<strong>da</strong>de <strong>docente</strong> deixar de ser simbólicas. É necessário fortalecer as<br />
relações simbólicas <strong>para</strong> que cresça a mútua confiança e as narrações sobre a identi<strong>da</strong>de<br />
<strong>docente</strong> possa novamente ser significante e significativa.<br />
A interpretação <strong>da</strong> identi<strong>da</strong>de <strong>docente</strong> também pode ser confundi<strong>da</strong> com a<br />
manifestação <strong>da</strong> persona. Por isso é necessário desvelar e dissolver a máscara e descobrir<br />
que, no fundo, ela na<strong>da</strong> tem de real. Ela, conforme Jung, representa um “compromisso<br />
entre o indivíduo e a socie<strong>da</strong>de, acerca <strong>da</strong>quilo que alguém parece ser” 460 . Carl Jung afirma<br />
que a persona<br />
é <strong>uma</strong> simples máscara <strong>da</strong> psique coletiva, máscara que aparenta <strong>uma</strong><br />
individuali<strong>da</strong>de, procurando convencer aos outros e a si mesma que é<br />
<strong>uma</strong> individuali<strong>da</strong>de, quando, na reali<strong>da</strong>de, não passa de um papel, no<br />
qual fala a psique coletiva. 461<br />
Jung complementa dizendo que<br />
através <strong>da</strong> persona o homem quer parecer isto ou aquilo, ou então se<br />
esconde atrás de <strong>uma</strong> “máscara”, ou até mesmo constrói <strong>uma</strong> persona<br />
defini<strong>da</strong>, a modo de muralha protetora. 462<br />
Portanto, a tarefa do hermeneuta que procura compreender a identi<strong>da</strong>de <strong>docente</strong> é<br />
interpretar as manifestações do próprio <strong>docente</strong> e analisar criticamente as suas narrações,<br />
verificando se ocorre um processo de construção <strong>da</strong> individuação ou <strong>uma</strong> projeção <strong>da</strong><br />
459 Leonardo BOFF, O despertar <strong>da</strong> águia, p. 11-12.<br />
460 Carl Gustav JUNG, O eu e o inconsciente, §. 246.<br />
461 Id., ibid., § 245.