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aportes para uma hermenêutica da identidade e da práxis docente

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206<br />

reali<strong>da</strong>de é inatingível. O sentimento de incompletude que <strong>da</strong>í resulta,<br />

bem como a sensação mais incômo<strong>da</strong> ain<strong>da</strong> de esterili<strong>da</strong>de é explicado de<br />

novo, como mal<strong>da</strong>de do mundo exterior e, com esse círculo vicioso, se<br />

acentua ain<strong>da</strong> mais o isolamento. Quanto mais projeções se interpõem<br />

entre o sujeito e o mundo exterior, tanto mais difícil se torna <strong>para</strong> o eu<br />

perceber suas ilusões. 457<br />

Os ouvidos não atentos e acríticos podem ser confundidos pelas projeções,<br />

chegando a considerá-las como narrativas reais e significantes. Isso significa que as<br />

narrações sobre a trajetória pessoal <strong>da</strong> formação profissional e <strong>da</strong> constituição <strong>da</strong><br />

identi<strong>da</strong>de <strong>docente</strong> precisam estar acompanha<strong>da</strong>s de <strong>uma</strong> reflexão crítica. Elas não podem<br />

estar desprovi<strong>da</strong>s de critici<strong>da</strong>de, tanto de parte de quem narra quanto especialmente <strong>da</strong><br />

parte de quem ouve. Aqui, <strong>uma</strong> vez mais, se torna importante a presença <strong>da</strong> relação<br />

dialética entre mesmi<strong>da</strong>de, ipsei<strong>da</strong>de e alteri<strong>da</strong>de refleti<strong>da</strong> por Ricoeur. É importante<br />

constatar a permanência e a consistência do eu e verificar se a ipsei<strong>da</strong>de não se expressa<br />

como <strong>uma</strong> flutuação constante do caráter. Ou seja, verificar a estabili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> relação<br />

dialética entre mesmi<strong>da</strong>de e ipsei<strong>da</strong>de. E é fun<strong>da</strong>mentalmente a reflexão sobre a alteri<strong>da</strong>de,<br />

o eu no outro – o eu e o outro – o outro no eu, que deverá analisar criticamente a presença<br />

ou não de projeções.<br />

Seguindo o pensamento de Jung, podemos dizer que a sombra, por representar o<br />

inconsciente pessoal, pode atingir a consciência sem dificul<strong>da</strong>de, no que se refere aos seus<br />

conteúdos. Apesar de confusões serem possíveis, “não é difícil, com certa dose de<br />

autocrítica, perceber a própria sombra, pois ela é de natureza pessoal” 458 . Por isso, não<br />

basta se fixar somente na narração, mas, sim, se apropriar <strong>da</strong> interpretação, desenvolver<br />

<strong>uma</strong> <strong>hermenêutica</strong> <strong>da</strong>s narrações de identi<strong>da</strong>de <strong>docente</strong>.<br />

Deve-se considerar que as projeções podem ser realiza<strong>da</strong>s tanto de forma individual<br />

quanto serem assumi<strong>da</strong>s por um grupo. As projeções podem ser tão fortes que criam<br />

processos de simbiose e identificações grupais. E quanto mais fechado em si e quanto mais<br />

inacessível for a redoma individual e grupal de um contexto escolar e de um ambiente<br />

educativo, tanto maior será a dificul<strong>da</strong>de dos processos de ressignificação. Isto aponta <strong>para</strong><br />

a importância de discernir as projeções tanto individuais quanto grupais. Para tanto, a<br />

pessoa que conduz as ativi<strong>da</strong>des de sala de aula <strong>da</strong>s dinâmicas de ressignificação e<br />

ressimbolização precisa ter um conhecimento teórico <strong>da</strong>s projeções, <strong>uma</strong> capaci<strong>da</strong>de<br />

teórica de interpretação, um bom discernimento <strong>da</strong>s narrações significantes, <strong>uma</strong><br />

457 Idem.<br />

458 Id., ibid., § 19.

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