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aportes para uma hermenêutica da identidade e da práxis docente

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de iniciá-la. Tanto o olhar quanto a intencionali<strong>da</strong>de são processos dinâmicos. O autor e o<br />

leitor, como sujeitos, estão plenos de subjetivi<strong>da</strong>de e de contextuali<strong>da</strong>de. Entretanto,<br />

dificilmente o diálogo entre ambos é realizável. Ricoeur argumenta que o diálogo é um<br />

intercâmbio de perguntas e respostas e que não há um intercâmbio desse tipo entre o<br />

escritor e o leitor, pois o escritor não responde ao leitor. 147 O leitor pode fazer perguntas ao<br />

autor que elaborou o texto como <strong>uma</strong> forma de buscar o sentido do texto e <strong>para</strong> in<strong>da</strong>gar o<br />

seu significado, mas isso se transforma num diálogo consigo mesmo. Portanto, o diálogo<br />

entre autor e leitor não é possível, porque há entre ambos <strong>uma</strong> distância geográfica, de<br />

tempo e de compreensão do próprio texto.<br />

Esse diálogo é inviável, por outro lado, porque nem sempre é possível reconstituir a<br />

reali<strong>da</strong>de e a intencionali<strong>da</strong>de exata do momento <strong>da</strong> composição do texto. Uma<br />

reconstituição do acontecimento que origina um texto, por mais fiel e sincera que seja <strong>uma</strong><br />

narração, sempre será <strong>uma</strong> reinterpretação. Portanto, to<strong>da</strong> ação narrativa <strong>da</strong> própria obra,<br />

seja textual ou vivencial, é <strong>uma</strong> releitura, <strong>uma</strong> interpretação, <strong>uma</strong> ação <strong>hermenêutica</strong>. Da<br />

mesma forma, “ler é articular um discurso novo ao discurso do texto” 148 . Ler o próprio<br />

discurso, a própria fala, é reler, é interpretar. Não é, porém, reviver a fala e nem o<br />

acontecimento que originou a fala. A tarefa <strong>hermenêutica</strong> <strong>da</strong> busca de sentido liberta-se,<br />

dessa maneira, <strong>da</strong> supremacia <strong>da</strong> subjetivi<strong>da</strong>de, assim como <strong>da</strong> objetivi<strong>da</strong>de cartesiana. A<br />

supremacia está no texto e não no sujeito que a interpreta.<br />

Na opinião de Ricoeur, a <strong>hermenêutica</strong> não pode definir-se simplesmente como a<br />

interpretação de símbolos 149 ou a decifração dos signos, pois nesse caso ela se mostraria<br />

muito estreita. O próprio sentido do símbolo, signo e mito se amplia e se altera em virtude<br />

<strong>da</strong> mediação através do texto. Podemos dizer que a transcrição do mito oral em linguagem<br />

textual já é <strong>uma</strong> ação <strong>hermenêutica</strong>, pois já está imbuí<strong>da</strong> de interpretação. A<br />

fenomenologia procura descobrir o texto oral que antecedeu o texto escrito. A<br />

<strong>hermenêutica</strong> ricoeuriana procura descobrir o sentido presente no texto que se encontra<br />

diante do leitor. A <strong>hermenêutica</strong> é a interpretação textual e tem <strong>uma</strong> dimensão lingüística<br />

<strong>da</strong> experiência narrativa, porque a fala antecede o texto.<br />

Nesse processo de análise, Ricoeur 150 rejeita o irracionalismo <strong>da</strong> compreensão<br />

imediata, na qual o sujeito leitor se introduz, n<strong>uma</strong> situação de cara a cara íntima,<br />

147 Paul RICOEUR, Del texto a la acción, p. 128.<br />

148 Id., ibid., p. 140.<br />

149 Id., ibid., p. 32.<br />

150 Id., ibid., p. 34.

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