aportes para uma hermenêutica da identidade e da práxis docente
aportes para uma hermenêutica da identidade e da práxis docente
aportes para uma hermenêutica da identidade e da práxis docente
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
210<br />
baú aberto e que, por outro lado, as pessoas também precisam de momentos de<br />
recolhimento, de ficarem num “casulo”. Poderíamos dizer metaforicamente que<br />
precisamos viver momentos <strong>para</strong> nos “casular”, <strong>para</strong> que possa surgir <strong>uma</strong> bela<br />
“borboleta”; que precisamos viver momentos de “outono”, em que as folhas caem, a<br />
vegetação parece estar seca, mas as raízes aproveitam a “bonança” <strong>para</strong> penetrar mais<br />
fundo na terra, firmando-se no solo firme e buscando alimentos mais profundos. São<br />
momentos onde podem ocorrer processos de ressignificação e ressimbolização no<br />
inconsciente, de reorganização dos símbolos fun<strong>da</strong>ntes e <strong>da</strong>s experiências marcantes. Eles<br />
não devem ser vistos como momentos de melancolia ou depressão, mas de recolhimento<br />
ressignificante. É um momento de apropriar-se de si mesmo.<br />
Assim como há o “outono”, também há metaforicamente momentos de<br />
“primavera”, em que a própria vi<strong>da</strong> floresce, em que há brilho e colorido, em que a vi<strong>da</strong><br />
brota e as coisas mais ocultas de repente aparecem, sem que percebamos nem saibamos<br />
donde elas surgem.<br />
Jung afirma:<br />
É impossível chegar a <strong>uma</strong> consciência aproxima<strong>da</strong> do si-mesmo, porque<br />
por mais que ampliemos nosso campo de consciência, sempre haverá<br />
<strong>uma</strong> quanti<strong>da</strong>de indetermina<strong>da</strong> e indeterminável de material inconsciente,<br />
que pertence à totali<strong>da</strong>de do si-mesmo. 466<br />
Por mais que se faça os movimentos de abrir e fechar ou de deixar completamente<br />
aberto o baú, sempre haverá um espaço oculto e algo ficará escondido. Sempre haverá<br />
alg<strong>uma</strong> sombra, um “cantinho escuro”. Se o inconsciente se tornasse totalmente conhecido,<br />
ele deixaria de ser inconsciente e o consciente o abrigaria completamente. Se fosse<br />
possível esse nível de integração e transparência, o inconsciente se tornaria extremamente<br />
frágil. Jung afirma que essa assimilação deveria ser “considera<strong>da</strong> <strong>uma</strong> catástrofe<br />
psíquica” 467 . O si-mesmo, que é o conjunto do inconsciente e do consciente, o self, sempre<br />
será <strong>uma</strong> grandeza que ultrapassa, transcende a nossa própria capaci<strong>da</strong>de de compreensão e<br />
de mensuramento.<br />
O si-mesmo, na perspectiva <strong>da</strong> expressão <strong>da</strong> personali<strong>da</strong>de, é <strong>uma</strong> categoria<br />
dinâmica, pois sempre está se configurando e reconfigurando com novas interações e<br />
intervenções. Apesar dos traços dos tipos psicológicos permanecerem os mesmos e <strong>da</strong><br />
manutenção dialética <strong>da</strong> ipsei<strong>da</strong>de e <strong>da</strong> mesmi<strong>da</strong>de, n<br />
466 Carl Gustav JUNG, O eu e o inconsciente, § 274.<br />
467 Carl Gustav JUNG, AION - estudos sobre o simbolismo do si-mesmo, § 45.