aportes para uma hermenêutica da identidade e da práxis docente
aportes para uma hermenêutica da identidade e da práxis docente
aportes para uma hermenêutica da identidade e da práxis docente
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
274<br />
ética. Quer ir <strong>para</strong> adiante, seja <strong>para</strong> onde for, independentemente do bem<br />
ou do mal. Quer desven<strong>da</strong>r o universo a qualquer custo. 599<br />
Na sabedoria popular brasileira criou-se <strong>uma</strong> expressão simbólica semelhante à de<br />
Fausto: a “lei de Gerson”. Esta expressão foi utiliza<strong>da</strong> originalmente n<strong>uma</strong> entrevista com<br />
o personagem Gerson, jogador de futebol <strong>da</strong>s déca<strong>da</strong>s de 60-70, e foi veicula<strong>da</strong> n<strong>uma</strong><br />
propagan<strong>da</strong> de cigarros que a popularizou. A propagan<strong>da</strong> veiculava a seguinte frase: “o<br />
negócio é levar vantagem”. A propagan<strong>da</strong> e a frase giram em torno do princípio de que o<br />
sacrifício só vale a pena enquanto se leva vantagem pessoal. Esse slogan não se importa<br />
com os princípios éticos, nem com a necessi<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s pessoas, com a questão <strong>da</strong><br />
comunitarie<strong>da</strong>de e, muito menos, considera a reflexão autocrítica. O que vale mesmo são<br />
os interesses pessoais. Assim como no relato <strong>da</strong> história de Goethe sobre Fausto, também<br />
aqui, com a “lei de Gerson”, o sacrifício tem relação direta com as vantagens pessoais.<br />
Ao contrário de Prometeu que visava o benefício <strong>da</strong> h<strong>uma</strong>ni<strong>da</strong>de, Fausto/Gerson<br />
luta, se engaja n<strong>uma</strong> ação <strong>para</strong> benefício próprio. Podemos dizer, metaforicamente, que<br />
Fausto não deixa os abutres comerem o seu fígado, pois lança, arremessa os abutres sobre<br />
as outras pessoas. Ele só “rói os próprios ossos” quando as pessoas não se sujeitam às suas<br />
propostas. Ele fica indignado porque não entende como as pessoas não aceitam e não<br />
seguem as suas idéias. Nesse sentido, pode-se dizer, metaforicamente, que as pessoas que<br />
encarnam o Fausto são as que devoram o fígado <strong>da</strong>s outras.<br />
É bastante difícil realizar reuniões pe<strong>da</strong>gógicas ou desenvolver projetos<br />
pe<strong>da</strong>gógicos em conjunto com pessoas que encarnam a atitude de Fausto. Estas sempre<br />
estão dispostas a enganar os outros, a reter informações ou a fornecê-las de forma<br />
distorci<strong>da</strong> <strong>para</strong>, assim, levar vantagem ou manter privilégios. São também pessoas que<br />
sempre procuram se “encostar” em alguém com melhor conhecimento ou que esteja mais<br />
informado e, assim, obter alg<strong>uma</strong> vantagem, algum proveito pessoal. Uma pessoa com a<br />
característica de Fausto é capaz de “vender a sua própria alma” <strong>para</strong> conseguir o que<br />
deseja. Isto significa que essa pessoa não mede esforços <strong>para</strong> atingir os seus objetivos,<br />
galgar os postos que deseja e sonha. Em princípio, são pessoas que contribuem muito<br />
pouco com a comunitarie<strong>da</strong>de, mas que procuram se beneficiar bastante.<br />
Igualmente contrário a Prometeu, que desafia um deus, Fausto quer ser Deus e usa<br />
artimanhas <strong>para</strong> o conseguir. Fausto não tem a intenção de desafiar e de modificar <strong>uma</strong><br />
situação. Ele tem na ver<strong>da</strong>de o desejo de ocupar o espaço, de usufruir <strong>da</strong> situação <strong>para</strong><br />
galgar posições. Ele sempre está, de <strong>uma</strong> forma ou outra, rodeando os lugares que ele um<br />
599 Humberto BRAGA, Quatro grandes mitos h<strong>uma</strong>nos, p. 15s.