aportes para uma hermenêutica da identidade e da práxis docente
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como professor e nem se identificava com a docência. Ele simplesmente ocupava um<br />
espaço na sala de aula, mas não o seu lugar como <strong>docente</strong> na escola.<br />
Como pesquisador e como professor-supervisor deste estagiário, foi possível<br />
acompanhar, durante um período de dois anos, o seu processo de atuação como estu<strong>da</strong>nte e<br />
como estagiário. Este período de acompanhamento e orientação didática permitiu<br />
conhecer, compreender e interpretar a sua <strong>práxis</strong>. A interpretação <strong>da</strong> problemática <strong>da</strong><br />
atuação desta pessoa foi favoreci<strong>da</strong>, especialmente, pelos relatórios escritos diariamente,<br />
pelas observações regulares, pelas narrativas individuais e pelos constantes diálogos sobre<br />
a sua atuação. Todo este processo de acompanhamento nos dá condições de avaliar que, até<br />
quase o final do estágio, ele não desvestiu a vestimenta de aluno e não conseguiu vestir-se<br />
com a identi<strong>da</strong>de de <strong>docente</strong>. Durante o período de estágio, ele deu conta <strong>da</strong> sua obrigação<br />
como concluinte de um curso de formação de professores, mas não <strong>da</strong> realização de <strong>uma</strong><br />
etapa de sua formação profissional.<br />
Outra pessoa estagiária do mesmo curso de magistério e estagiando no mesmo ano,<br />
após atuar três semanas no magistério, enfrenta a sua primeira crise profissional e está<br />
diante de um dilema: desistir do estágio e interromper a sua formação ou assumir a<br />
reali<strong>da</strong>de de dificul<strong>da</strong>des e alegrias que a profissão oferece e continuar o estágio até a<br />
última etapa. Essa estagiária decide não desistir, mas continuar o estágio. A transformação<br />
<strong>da</strong> sua prática ocorreu quando, consciente do que estava experimentando, ela afirma:<br />
“Agora vou pegar”. Nos dias após essa decisão, já era possível perceber os primeiros<br />
reflexos <strong>da</strong> mu<strong>da</strong>nça e <strong>da</strong> identi<strong>da</strong>de que estava sendo assumi<strong>da</strong>: um sorriso surge no rosto;<br />
o planejamento <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des torna-se mais consistente e condizente com as características<br />
<strong>da</strong> turma e, principalmente, a relação com a professora titular <strong>da</strong> sua turma fica mais<br />
fraterna, comunicativa e interativa.<br />
A metáfora do desvestir-se e revestir-se possibilitam um processo de tomar<br />
distância <strong>da</strong> prática educativa, seja com o intuito reflexivo, seja pela necessi<strong>da</strong>de de<br />
recuperar forças físicas, mentais e afetivas, seja ain<strong>da</strong> com a intenção de afastar-se <strong>da</strong><br />
função e <strong>da</strong> profissão <strong>docente</strong> <strong>para</strong> tornar-se, novamente, somente a pessoa social e<br />
familiar. A dinâmica dialética do desvestir-se, vestir-se e revestir-se cria um movimento<br />
vivo e constante <strong>da</strong> construção tanto <strong>da</strong> personali<strong>da</strong>de pessoal do <strong>docente</strong> quanto <strong>da</strong><br />
significação <strong>da</strong> identi<strong>da</strong>de <strong>docente</strong>. Ao mesmo tempo, o movimento dinâmico dessa<br />
metáfora de desvestir-se e do revestir-se possibilita um distanciamento e um olhar-se a<br />
partir de um outro ponto de vista. Esse movimento dinâmico de distanciamento ocorre