Politica Indigena - Faculdade de Direito da UNL

cA applicação da justiça entre raças inferiores é talvez a pedra de
toque por oiide os indigenas avaliam da integridade do administrador. É
sabido que o negro tem, em geral, uma noção muito lucida da jiistiça, e
tanto que muitas vezes succcde o individiio punido por uma falta ser o
primeiro a confessar que o branco teve razáo em o castigar; mas tambem
o castigo injusto não lhe sae mais da memoria, despertando-lhe os seus
instinctos de revolta e de vingança atP. Por isso o prestigio d'um chefe
depende muito da boa e opportnna applicação da justiça. Que o negro rião
veja no branco unicamente o seti explorador, o senhor que o obriga a trabalhar,
a pagar tributos, mas que o desinteresse e a imparcialidade com
que aquelle procede na soliiçáo dos pleitos sejam garantia segura da ordem
e do socego nas terras, e da defeza dos bens e da mulher contra as extorsúes
e violencias praticadas, não s6 pelos da sua raça, mas tambem pelos
da nossa.
No districto de Inhambane é gratuita a intervenção do commandante
militar nos rnilandos entre indigenas. N'outras regiúes o queixoso paga um
tanto por apresentar o seu pleito. Ao regulo paga quasi sempre o negro
um tanto por apresentar milando. N~s, no commando de Chicoma, em
Inhambane, só auctorisavamos os regulos a resolverem milandos pouco graves,
e, sempre que visitavamos as povoaçóes d'estes chefes, inquiriamos
por que se encontravam diversos negros no calabouço. Foi sempre nosso
cuidado não desauctorisar as auctoridxdes cafreaes aos olhos dos indigenas,
visto serem ellas os auxiliares da nossa administraçáo, mas tambem não
lhes deixar nas mzos todo o poder e força. É muito importante para a
nossa soberania e para o prestigio do chefe branco, ser escolhido pelos
naturaes para julgador das suas causas. Assegura-se assim a influencia,
6 o meio melhor de conhecer a indole e os costumes, dos habitantes, e B
talvez o mais efficaz de polir as asperezas das suas leis e iisos.
k na solução das questees de justiça que se torna mais sensivel a
necessidade do funccionario saber fallar, ou, ao menos, compreliender a
lingua do paiz. Muitas vezes os interpretes por estupidez, por falta de
attençdo, por preraricaç%o, ou nGo transmittem fielmente as nossas perguntas
e as respostas das partes, ou não dão ao interrogatorio a orientayá9