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Barão

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superior, dos senhores e a barbárie dos africanos, uma contradição que seria superada apenas quando<br />

os negros africanos abandonassem de vez suas raízes e adotassem a cultura dominante de seus<br />

senhores.<br />

O autor fornece um modelo oposto de se considerar aqueles que sofreram com a escravidão<br />

no Brasil, discutindo a organização e a forma de execução da resistência escrava, através das fugas e<br />

da organização de quilombos.<br />

Em sua obra, Rebeliões da Senzala, de 1959, contrapõe-se de forma pioneira a visão do<br />

escravo enquanto vítima passiva de seu destino. Segundo Moura, ―[...] senhores e escravos<br />

constituíam a dicotomia básica brasileira [...]‖. 129<br />

Um desdobramento deste último período foi dado já na década de 1970, quando o escravismo<br />

deixa simplesmente de ser considerado um acidente cruel da sociedade, para se tornar um dado<br />

explicativo do presente. 130<br />

No entanto, se essa corrente teve a fundamental importância em negar o caráter benevolente,<br />

idílico, doce e paternal da escravidão, essa ―revisão‖ acaba destacando um outro fator que será mais<br />

adiante contestado pela ―nova‖ geração de historiadores e sociólogos, que é a questão da ―coisificação‖<br />

do escravo que acabou deixando a margem à resistência servil, por não perceber o sentido dado por<br />

esses homens e mulheres escravizados às suas ações, ou seja, expressar que diante da incapacidade<br />

dos escravos enquanto seres humanos (coisas) eles são inferiores e capazes apenas de manifestar<br />

uma realidade que era imposta pelos seus senhores. Retirando, portanto, dos escravos a condição de<br />

produtores de seus próprios valores, pensamentos ou ações, pois estes são impostos segundo as<br />

vontades de seus senhores.<br />

Se por um lado foi ressaltado a coisificação social dos escravos, implícito na violência e<br />

tratamento jurídico que lhe concebia como mercadoria, ao mesmo tempo, foi capaz de revelar algumas<br />

generalizações como a ideia defendida nos trabalhos de Fernando Henrique Cardoso que foi a ideia da<br />

coisificação subjetiva.<br />

Diante desse processo é possível entender que o papel dos escravos enquanto agentes<br />

históricos permaneceu oculto nessas análises, como podemos notar no trecho a seguir,<br />

[...] o escravo era uma coisa, sujeita ao poder e à propriedade de outrem, e,<br />

como tal, ―havia por morto, privado de todos os direitos‖ e sem representação<br />

alguma. A condição jurídica de coisa, entretanto, correspondia à própria condição<br />

social do escravo.<br />

129 MOURA, Clóvis. Rebeliões da senzala. 3. ed. São Paulo: Ciências Humanas, 1981. p. 14<br />

130 São representantes desta etapa da historiografia brasileira, Ciro Flamarion Santana Cardoso, Antonio Barros de<br />

Castro, Jacob Gorender e Fernando A. Novais.<br />

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