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Barão

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personalidades a visitarem ou escreverem a respeito dos costumes locais. A exemplo de tais<br />

descrições verificamos por meio de Monteiro Lobato em: ―A Barca de Gleyre‖ - coletânea de cartas que<br />

o autor trocou entre - amigos a imagens da Belle Époque de Ribeirão Preto. Em carta enviada para o<br />

amigo Rangel o escritor devaneia:<br />

Costumes, hábitos, idéias, tudo lá é diferente destas nossas cidade do velho S.<br />

Paulo e da tua Minas. Em Ribeirão dizem que ha 800 ―mulheres da vida‖, todas<br />

―estrangeiras e caras.‖ Ninguem ―ama‖ ali á nacional. O Moulin Rouge funciona ha<br />

12 anos e importa champanha e francesas diretamente.<br />

Lá ninguem mora; apenas estaciona para ganhar dinheiro. [...] Tenho que<br />

estacionar lá também [...] Estou apertando minhas cunhas para ser nomeado para<br />

Ribeirão Preto ou coisa equivalente. [...] tantas, Rangel, e tão mimosas, tão<br />

casadoiras, que a gente acaba amaldiçoando a monogamia.<br />

O clima daqui atrai gente de fora. Afluem famílias do Rio e S. Paulo, gente fina,<br />

com botõesinhos assim. E dansa-se muito. [...] Houve grossa riqueza por lá, quando<br />

aquilo era o Ribeirão Preto da Época. Barões que usavam pinicos de ouro. Mulheres<br />

ciumentas que cortavam os seios de escravas. Cada casa lá – dizem aqui – é cofre<br />

duma lenda – aqueles casarões abandonados. Ainda ha misterios no ar. 32<br />

Nesta carta encontramos diversas descrições dos costumes de Ribeirão Preto durante a Belle<br />

Époque. A freqüência cotidiana dos hábitos considerados modernizantes e civilizados que rotulou a<br />

cidade como sendo modelo do ideal da Primeira República ganha destaque nesses escritos. É uma<br />

constante também a afirmação de que os homens se deleitavam na vida boemia proporcionada pelas<br />

requintadas e fidedignas damas da noite. Os cabarés descritos por Lobato eram estabelecimentos<br />

dedicados exclusivamente aos indivíduos do sexo masculino e serviam como deposito de rituais<br />

amorosos e/ou práticas administrativas, políticas dos homens da cidade. Monteiro Lobato finaliza a<br />

carta para o amigo Rangel, dizendo que Ribeirão Preto possuía estórias construídas pela tradição oral,<br />

que colocavam a cidade no palco de enigmas mal resolvidos.<br />

No ano de 1895 foi inaugurado o Grupo Escolar Dr. José Guimarães Júnior nos quais foram<br />

lecionadas aulas mistas. Para legitimar o ordenamento público instrumentos legais foram criados, no<br />

intuito de controlar e punir rupturas das normas sociais desejadas e estipuladas pela elite local. Neste<br />

intuito, o poder Municipal, através da Câmara e da Cadeia se prontificará a atentar para essa<br />

necessidade: ―[...] a partir da constituição da primeira Câmara Municipal, em 13 de julho de 1874‖. 33<br />

Todavia, após a assinatura da ata para construção da Câmara Municipal, o projeto ficará travado por<br />

um bom tempo por falta de orçamento/conflitos entre o poder público.<br />

32 LOBATO, M. A Barca de Gleyre. 1º Tomo, 3ª ed. São Paulo: Brasiliense, 1950, p.153-167.<br />

33 (APHRP) FARIA, R. S. Ribeirão Preto, uma cidade em construção... Op. Cit., p.101.<br />

Na Trilha da Modernidade Cafeeira 149

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