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Barão

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[...] a escravidão não funcionou e se reproduziu baseada apenas na força. O<br />

combate à autonomia e indisciplina escrava, no trabalho e fora dele, se fez através<br />

de uma combinação da violência com a negociação, do chicote com a<br />

recompensa. 149<br />

Pelo lado dos escravos os enfrentamentos também não se operavam apenas através da força.<br />

Eles souberam utilizar também de estratégias pacíficas de resistência, como pequenos atos de<br />

desobediência, manipulação pessoal e autonomia cultural. 150 Ou seja, a resistência foi incorporada ao<br />

dia-a-dia da instituição escravidão. O aparato repressor, os recursos materiais dos senhores eram<br />

enfrentados com inteligência e criatividade pelos escravos, mais uma vez demonstrando o equívoco<br />

daqueles que os viam apenas como um mero reflexo de seus senhores.<br />

Segundo João José Reis e Eduardo Silva, as reivindicações e as lutas dos escravos não se<br />

esgotavam apenas na defesa de padrões materiais, mas incluíam também a defesa de uma vida lúdica<br />

e espiritual com autonomia. Ao mesmo tempo em que lutavam por um pedaço de terra para plantar,<br />

melhores condições de trabalho, os rebeldes também exigiam o direito de cantar, brincar ou mesmo<br />

folgar, sem o consentimento prévio de feitores ou mesmo de seus senhores. 151<br />

Por isso é necessário esclarecer que, ―ao lado da sempre presente violência, havia um espaço<br />

social que se tecia tanto de barganhas quanto de conflitos‖. Assim, pode-se dizer que ―[...] Os escravos<br />

não foram vítimas nem heróis o tempo todo, se situando na sua maioria e a maior parte do tempo numa<br />

zona de indefinição entre um pólo e outro‖. 152<br />

Outro estudo importante de João José Reis é a Rebelião escrava no Brasil, um livro sobre a<br />

Revolta dos Malês de 1835, de todos os trabalhos sobre resistência escrava nos anos 1980, é a obra<br />

de maior influência, pois é um estudo que abre novas searas ao abordar uma complexa rebelião negra<br />

a partir da visão que os próprios negros tinham do momento histórico, político e econômico em que<br />

viviam. A partir desse momento, o escravo torna-se agente da História. Esta obra é um marco na<br />

historiografia pois, a partir dela o escravo negro deixa seu status de objeto da história para ser<br />

encarado como aquele que atua sobre a realidade e, quando não consegue transformar sua realidade,<br />

busca alternativas transgredindo ou negociando. Com isso, a resistência ganha um importante espaço<br />

na produção historiográfica da época, importante para entender a superação do escravismo, não mais<br />

pela inviabilidade econômica do sistema, mas pela própria ação do negro.<br />

Ainda merece consideração a obra de Maria Helena P. T. Machado, Crime e escravidão:<br />

trabalho, luta, resistência nas lavouras paulistas 1830-1888, que analisa o cotidiano nas fazendas<br />

149 Idem., p. 32<br />

150 Idem. Ibidem, p. 32.<br />

151 Idem., p. 8<br />

152 Idem., p. 7<br />

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