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Barão

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Um dado concreto, a que não se pode fugir é que o trabalhador volante rural<br />

está aí e deverá fazer parte da nossa sociedade ainda por muitos anos, ele não<br />

pode ser simplesmente objeto de curiosidade ou pesquisa, não pode viver de<br />

esmolas ou caridade. A sociedade tem que assumir a responsabilidade de<br />

oferecer-lhe ao menos condições mínimas de vida, compatíveis com a sua<br />

dignidade humana. 921<br />

Silva (1999) descreve uma realidade sobre o transporte do bóia fria:<br />

[...] os ―bóias frias‖ foram, quase sempre, notícias de jornais, em virtude dos<br />

acidentes com caminhões. [...] Violência ao transportar pessoas em veículos<br />

usados para o transporte de coisas e animais [...] aos serem transportados em<br />

caminhões como coisas, eles são considerados, da forma mais pura, como capital<br />

circulante. ―Pegar caminhão‖ e ―caminhão de bóias frias‖ são sinônimos de<br />

vergonha corporal ou cultural. 922<br />

Em várias leituras bibliográficas encontraremos, num primeiro momento, a negativa do<br />

trabalhador rural volante em se considerar como um profissional da classe. Desprovidos de terras e<br />

direitos, sua sociabilização se tornou lenta e muitos relutaram em afirmar que sua profissão era bóia<br />

fria.<br />

Nas palavras de Maria Conceição D‘Incao:<br />

[...] os bóias frias passam a constituir uma população errante, que se desloca<br />

nas próprias regiões de origem ou de uma região para outra, à procura de trabalho.<br />

[...] incorporando a ideologia dominante e se tornando como trabalhador sem<br />

profissão [...] recebendo baixíssimos salários e não tendo a garantia de quaisquer<br />

direitos humanos ou trabalhistas. 923<br />

A negação do bóia fria em reconhecer sua identidade, como grupo social e profissional,<br />

facilitaria o poder dos usineiros e desarticularia o processo de melhoria para a entidade rural. Esse<br />

cenário começaria a mudar a partir de maio de 1984, quando a organização de sindicatos da região,<br />

mais especificamente Jaboticabal e Guariba, passaram a reivindicar melhorias trabalhistas ainda não<br />

reconhecidas pelos bóias frias. Bastaria um impulso, uma mobilização generalizada.<br />

3.4 – O bóia fria: seu papel atuante<br />

921 Op. cit., p.6<br />

922 SILVA, M. A. de M. Op. cit., p. 160.<br />

923 D‟INCAO, M. C. A Questão do Bóia Fria. São Paulo: Ed. Brasiliense, 1984. p. 10 e 11.

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