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Barão

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No final do século XX tivemos transformações diante da morte e de suas representações, que<br />

se iniciaram no século XIX através da grande mudança nos costumes fúnebres urbanos no Brasil. Na<br />

carta régia de 14 de janeiro de 1801, o príncipe regente de Portugal ordenava ao governador da<br />

Província de São Paulo que em cada cidade se escolhesse um terreno para se construir um cemitério,<br />

distante da cidade, para que não fossem nocivos à saúde dos vivos os miasmas dos mortos. 700<br />

Essas transformações não foram de início aceitas pela população, havia os costumes fúnebres,<br />

o campo-santo, a preocupação com a boa morte, que era planejada em vida.<br />

No Brasil tivemos um caso clássico desse protesto, a ―Cemiterada‖, na Bahia, em 1836, conflito<br />

entre o ―sagrado‖ e o ―profano‖ contra a construção do cemitério público, porém com a epidemia de<br />

cólera em 1855, não houve outro jeito, o cemitério pelo qual os revoltosos lutaram teve que funcionar. A<br />

morte através das epidemias e contágios levou o medo aos mortos na população, sendo os enterros<br />

novamente proibidos nas igrejas, agora não havia mais protesto, a morte já não era mais um<br />

espetáculo, e sim uma ameaça. 701<br />

Este modelo de morte não chegou com a mesma velocidade em todos os setores da sociedade<br />

e nem em todas as cidades, houve um período de rearranjos e negociações em torno do espaço dos<br />

vivos e dos mortos, havia os que queriam ainda a ―velha morte‖ e havia os que queriam a ―nova morte‖.<br />

A partir da lei de 1º de outubro de 1828 que criava as câmaras municipais nas cidades e vilas<br />

aprofunda a regulamentação do assunto, porém os municípios não dispunham de renda para a<br />

construção dos cemitérios e acabavam sem muitas alternativas: ou adiavam a iniciativa e permitiam os<br />

sepultamentos nas igrejas, ou clamavam à população ajuda para a construção do cemitério. 702<br />

As epidemias e doenças infecto-contagiosas tiveram forte influência na contribuição do medo<br />

do contágio através dos mortos e houve o desejo de afastar-se deles. Essas ideias de contágio surgem<br />

com conselhos médicos e de higienização.<br />

Em Ribeirão Preto não há indícios nem registros de documentos que comprovem se houve<br />

conflitos com a proibição dos sepultamentos dentro das igrejas, visto que o primeiro cemitério era muito<br />

pequeno, assim como a capela, e os demais foram se formando nos arredores da Matriz crescendo<br />

junto com a população, enchendo-se rapidamente e depois desativados e cedendo lugar a praças e<br />

ruas importantes do centro da cidade.<br />

De acordo com o pensamento vigente do final do século XIX as cidades deveriam ser<br />

―saneadas e embelezadas‖ e todos os miasmas e focos de doenças deveriam ser afastados do contato<br />

com os moradores e por isso somente na década de 1880 é que Ribeirão Preto já possuía um hospital<br />

700 CYMBALISTA, Renato. Cidades dos Vivos: Arquitetura e atitudes perante a morte nos cemitérios do estado de<br />

São Paulo. São Paulo, Annablume: Fapesp, 2002, p.43.<br />

701 REIS, João José. Op. cit.<br />

702 CYMBALISTA, Renato. Op. cit.,p.45-46.<br />

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