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Barão

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que os documentos podem deixar para que se entenda a sociedade estudada, buscando o movimento<br />

da história.<br />

Em sua obra, o autor acompanha a partir de estudos de casos, alguns personagens,<br />

levantados através da documentação estudada, que participaram do cotidiano que levou ao fim da<br />

escravidão no Brasil.<br />

Percebemos nitidamente que ao recriar o cotidiano da venda e da negociação envolvendo<br />

escravos, proprietários e negociantes, discutindo o sentido de liberdade, Chalhoub, naquilo que<br />

chamou de ―questões minúsculas‖, caminhou para um entendimento mais amplo do que se consistiu o<br />

sistema escravista brasileiro. O livro nos traz um aspecto interessante de reflexão,<br />

justamente quando se afirma que muitas vezes nos casos individualizados, os negros possuíam várias<br />

formas de luta e resistência contra a instituição escravidão que nem sempre perpassavam pelo crime<br />

ou pela fuga. Este aspecto fica muito claro nos processos judiciais analisados, onde os escravos<br />

participavam ativamente nos processos que envolviam compra ou transferência. Sidney Chalhoub<br />

identifica que nos momentos cruciais da venda, os escravos sempre exerciam alguma forma de<br />

pressão ou negociação. 141<br />

Vários motivos se mostraram consistentes, segundo o autor para esta interferência dos<br />

escravos nesses processos de negociação, dentre eles, a manutenção de laços de solidariedade ou de<br />

parentesco, o temor de transferência para uma fazenda de café, meio estranho ao escravo da Corte do<br />

final do século XIX, ou o direito de escolha de pertencer a um determinado senhor. Esta certa<br />

autonomia dentro da instituição demonstra cada vez mais que esses escravos ao se rebelarem<br />

acabavam tendo um controle de suas vidas, conseguindo, de certa forma até alguns benefícios,<br />

fazendo com que as teorias que reduziam os escravos a meros reflexos de seus proprietários e da<br />

sociedade dominante, teorias que tentavam legitimar a despersonalização dos escravos sejam<br />

dissolvidas cada vez mais. Portanto é possível compreender que essas lutas cotidianas, conviveram<br />

perfeitamente com a formação de quilombos e com as grandes insurreições, como forma de destruição<br />

do sistema escravista.<br />

Em vários exemplos de liberdade, Chalhoub nos revela que a liberdade alcançada pelos<br />

negros ao final do século XIX estaria retratada em diversos aspectos econômicos, pois afinal era deles<br />

que dependiam as atividades produtivas, a força de trabalho, políticos, pois agora cabia ao governo<br />

interferir na organização das relações de trabalho e sociais, porque impõem-se uma necessidade de<br />

gerar condições para que esse ex-escravo, alcance uma mínima inserção social, no que diz respeito à<br />

moradia, alimentação, instrução, etc., assuntos antes de responsabilidade de seus senhores.<br />

141 Idem., p. 32.<br />

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