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Barão

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O terceiro ponto é sobre a característica libertaria que possui a teologia formulada na América Latina<br />

no século XX, e que possui como base o pensamento do povo com todo uma concepção<br />

revolucionária, como se pode observar nas palavras de Irarrazaval:<br />

Da mesma forma que existe uma arte mais própria do pobre, ou uma medicina popular (que costuma ser mais<br />

eficaz que as consultas médicas), ou uma modalidade de trabalhar e de conviver característica das massas<br />

populares e, ao mesmo tempo, contestadora com relação as formas vigentes, existe também uma sabedoria da<br />

fé na história dos oprimidos. Esta, e não o tipo de erudição da classe alta, tende a ser a atividade teológica mais<br />

representativa da comunidade eclesial e mais fiel à Palavra de Deus. 22<br />

Portanto, para os historiadores e pensadores do CEHILA, a religião no século XX se transformou de um<br />

instrumento de dominação em um instrumento de libertação, mas só conseguiu tal façanha devido a<br />

natureza popular que inspirou seus teólogos.<br />

O trabalho do historiador Samuel Silva Gotay apresentará algumas modificações teóricas que somados<br />

as idéias do grupo do CEHILA ajudam a compreender o porquê e como ocorreram as transformações<br />

da Igreja.<br />

Segundo Gotay, a teologia tradicional estava fundamentada no idealismo greco-romano sendo<br />

embasada em uma concepção dualista da realidade e da história, ou seja, o mundo estava dividido<br />

entre o bem e o mal, o corpo e a alma, o sagrado e o profano, e entre dois tipos de história, uma<br />

história natural e outra da salvação:<br />

...a visão platônica do mundo e da história, que tanto influenciou a explicação teológica da fé nesta época<br />

helenista de deterioração intelectual e sincretismo ideológico, é de caráter metafísico e idealista. Essa<br />

cosmovisão caracteriza-se pela espiritualização da realidade<br />

material. O platonismo aponta a matéria como a causa da quedo da alma. Esta pertence ao mundo das idéias<br />

puras. Daqui que a matéria e a história sejam vistas num plano inferior e negativo. Nesse topos uranos ou<br />

mundo supercelestial das idéias, encontra-se o ser real de todas as coisas, as essências, gênese da realidade<br />

objetiva e histórica. Ale se encontra a verdade sobre tudo o que existe já predeterminado absolutamente em sua<br />

universalidade e eternidade de todas as suas possibilidades. A história é uma cópia corrupta da realidade<br />

celestial, é uma sombra borrenta. 23<br />

Esta visão dualista da história serviu durante muito tempo para justificar e acomodar as desigualdades<br />

sociais, pois só no plano celestial é que todos teriam fartura e seriam iguais perante Deus. Esta idéia<br />

que perpassou toda a trajetória das religiões cristãs, apesar da tentativa dos tomistas introduzirem o<br />

materialismo essencialista de Aristóteles com São Tomáz de Aquino, o que esbarrou no dogma do<br />

predeterminismo de Deus sobre todas as coisas.<br />

Para Gotay, os militantes cristãos que surgiram no século XX na América Latina, fruto de um processo<br />

histórico específico, passaram a enfrentar uma crise ideológica: Como associar a militância<br />

22 ibid. p.367.<br />

23 GOTAY, Samuel Silva. O pensamento cristão revolucionário na América Latina e no Caribe. Trad. Luiz João Gaio.<br />

São Paulo: Paulinas, 1985, p. 67/68.<br />

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