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Barão

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2.3 A transição da Igreja-cemitério para o cemitério público<br />

Morrer no século XIX não era como morrer nos dias de hoje, o local dos enterros tinha que ser<br />

o território sagrado das igrejas para os católicos, já para os não-católicos se tornava um problema à<br />

parte.<br />

Era preciso se cumprir os rituais religiosos da boa morte para assegurar a passagem para a<br />

vida além do mundo e isso talvez explique o fato de como foi difícil para os católicos aceitarem a<br />

proibição dos sepultamentos nas igrejas devido às questões de saúde pública.<br />

O pesquisador baiano João José Reis em seu livro ―A morte é uma festa‖, diz:<br />

―Como era comum nas sociedades tradicionais, não havia separação radical, como<br />

hoje temos, entre a vida e a morte, entre o sagrado e o profano, entre as cidades dos vivos e<br />

a dos mortos. Não é que a morte e os mortos nunca inspirassem temor. Temia-se, e muito, a<br />

morte sem aviso, sem preparação, repentina, trágica e, sobretudo sem funeral e sepultura<br />

adequados.‖ 650<br />

"As atitudes diante da morte" - sentencia João José Reis - e ―a relação entre os vivos e os<br />

mortos‖ não estão separados de processos históricos mais amplos, daí porque cada país - talvez cada<br />

região cultural - teve uma cronologia própria das mudanças.<br />

As primeiras preocupações com o hábito de se enterrar os mortos dentro das igrejas ou ao<br />

redor destas surgem na França em meados do século XVIII. Essa preocupação surgiu no contexto de<br />

uma série de questionamentos sobre os hábitos higiênicos das populações. 651<br />

No Brasil por volta de 1830, pela influência da medicina social francesa e da visão médica e<br />

racionalista com cada vez mais adeptos entre os médicos do país, as práticas de sepultamento nas<br />

igrejas começam a ser questionadas pois os mortos passam a representar um grande problema de<br />

saúde pública: sua decomposição era uma fonte causadora de doenças e epidemias. Desse modo<br />

todos os costumes relativos a funerais e velórios eram por eles considerados como reflexo de uma<br />

mentalidade atrasada e supersticiosa, que não condizia com os ideais de civilização da nação que se<br />

formava. A morte asséptica e distante dos centros urbanos estava associada ao ideal civilizador, tendo<br />

a França como maior influência. 652<br />

650 REIS, João José. Op.cit., p.74<br />

651 Ibid., p.74-75.<br />

652 Ibid., p.247.<br />

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