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Barão

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Nas casas, domínios privados e públicos estavam presentes. Nos públicos, como<br />

as salas de jantar e os salões, lugar das máscaras sociais, impunham-se regras para<br />

bem-receber e bem-representar diante das visitas. As salas frequentemente abriam-se<br />

para reuniões mais fechadas ou saraus, em que se liam trechos de poesias e romances<br />

em voz alta, ou uma voz acompanhava os sons do piano ou harpa. 455<br />

Seguindo este raciocínio, Thais Innocenti afirma que existiam dois espaços estanques: o público, dos<br />

homens e cortesãs, e o doméstico das mulheres e filhos. Contudo, ―ela afirma, que havia dois tipos de<br />

mulher: a pura, esposa, sem sexualidade e, a cortesã, pecadora, na qual o eixo carnal de narrativa se<br />

somam admoestações morais. O prazer, portanto, estava eliminado do casamento e a maternidade só<br />

podia aparecer enquanto fenômeno social e psíquico, nunca físico.‖ 456<br />

O casamento entre famílias ricas e burguesas era usado como um degrau de<br />

ascensão social ou uma forma de manutenção do status (ainda que os romances<br />

alentassem, muitas vezes, uniões ―por amor‖). Mulheres casadas ganhavam uma nova<br />

função: contribuir para o projeto familiar de mobilidade social através de sua postura nos<br />

salões como anfitriãs e na vida cotidiana, em geral, como esposas modelares e boas<br />

mães. Cada vez mais é reforçada a idéia de que ser mulher é ser quase integralmente<br />

mãe dedicada e atenciosa, um ideal que só pode ser plenamente atingido dentro da<br />

esfera da família ―burguesa e higienizada‖. Os cuidados e a supervisão da mãe passam<br />

a ser muito valorizados nessa época, ganha força a idéia de que é muito importante que<br />

as próprias mães cuidem da primeira educação dos filhos e não os deixem<br />

simplesmente soltos sob influência de amas, negras ou ―estranhos‖, ―moleques‖ da<br />

rua. 457<br />

Podemos dizer que o coração estava no centro da identidade feminina e, nesse ponto, a sociedade<br />

profana e a religião estavam de acordo, afirmando que as mulheres constituíam a fonte de qualidade e<br />

eram, portanto, indispensáveis ao funcionamento da sociedade.<br />

As mudanças no comportamento feminino incomodaram e deixaram perplexos os conservadores.<br />

Afinal, era muito recente a presença das moças das camadas médias e altas, as chamadas de ―boa<br />

família‖, que se aventuravam sozinhas pelas ruas da cidade, passeando, fazendo compras e tudo o que se<br />

fizesse necessário. Contudo:<br />

455 D‟INCAO, Maria Ângela. Mulher e Família burguesa... Op. cit., p.228.<br />

456 INNOCENTI, Thaís Ferras de Barros Pimentel. Dona Veridiana Valéria da Silva Prado: uma imagem e seus espelhos.<br />

Dissertação de Mestrado apresentada à Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São<br />

Paulo, São Paulo, 1985, p.29.<br />

457 D‟INCAO, Maria Ângela. Mulher e Família burguesa... Op. cit., p.229.<br />

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